Para aliados, Bolsonaro está cada vez mais distante e dissonante
O presidente cria crises para mostrar que ainda governa e o candidato à reeleição tenta demonstrar que ainda tem fôlego para subir nas pesquisas
Uma semana atrás, Jair Bolsonaro reivindicava a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito contra o próprio governo. Queria investigar a formação de preços e de salários na Petrobras.
Retirou a ideia de circulação, quando aliados o advertiram sobre a trapalhada — governo investigar o governo em plena temporada eleitoral é quase o mesmo que Bolsonaro ir às ruas pedir voto para os adversários.
Uma semana depois, o candidato à reeleição está empenhado em desmontar outra CPI, sobre desvios no Ministério da Educação, com o ex-ministro Milton Ribeiro acusado de deixar roubar. Bolsonaro correr contra o relógio, para garantir que a CPI não seja instalada no Senado, pelo menos antes da eleição.
No meio do caminho, surgiu outra crise. Ontem, o candidato à reeleição recebeu por dez minutos um dos seus militantes favoritos, Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal.
Não se sabe o que conversaram, mas será surpresa no Congresso se Guimarães continuar no governo. Ele está sendo investigado por assédio, moral e sexual, contra subordinadas no banco público, como relatou o repórter Rodrigo Rangel, do portal Metrópoles.
Num ambiente eleitoral contaminado pela crise econômica, onde a cesta básica de alimentos já consome mais da metade de um salário mínimo (R$ 1.212), o presidente cria crises para mostrar que ainda governa. E o candidato à reeleição tenta demonstrar que ainda tem fôlego para avançar nas pesquisas, é competitivo e possui perspectiva de continuidade no poder.
Os dois Bolsonaro, porém, parecem cada vez mais distantes aos olhos e dissonantes aos ouvidos dos aliados, à deriva numa realidade melancólica de fim de governo e estacionado nas pesquisas eleitorais a uma dúzia de semanas da eleição.