Lula se despediu de Nova York, nesta quarta-feira (25/9), onde esteve por cinco dias acompanhado de um séquito de uma centena de burocratas subordinados, como contou o repórter André Shalders.
O hábito de cortejos extensos é peculiaridade de alguns governantes latinos. Fidel Castro e Hugo Chávez, por exemplo, sempre viajavam com mais de 100 assessores na comitiva, que incluía cozinheiros.
Chávez foi um dos governantes mais caros da América do Sul no último quarto de século. Discursava como revolucionário socialista, gastava como rico capitalista.
Em 2011, análises das contas governamentais feitas em separado pela Transparência Internacional e pelo Partido Popular, de oposição, coincidiram na revelação de parte dos gastos com mordomias do chefe do movimento Socialismo do Século XXI, que aportava 46% dos recursos públicos numa única rubrica orçamentária: “Felicidade Suprema”.
As mordomias chavistas incluíam, a preços da época:
● US$ 10,4 milhões em despesas com festas, alimentos, bebidas e “relações sociais”, geralmente no Palácio de Miraflores, um casarão neobarroco francês construído no centro de Caracas há 143 anos pelo conde italiano Orsi di Mombello;
● US$ 320,3 mil em gastos com roupas e sapatos;
● US$ 151 mil em produtos de toilette;
● US$ 408 mil com lavanderia;
● US$ 9,5 milhões por mês em viagens externas;
● US$ 3,2 milhões com a manutenção de “residências” presidenciais.
Nicolás Maduro, ditador que sucedeu a Chávez, manteve a tradição enquanto pode. Restringiu os périplos externos cinco anos atrás, quando a agência norte-americana antidrogas (DEA) anunciou um prêmio de 15 milhões de dólares (cerca de 82 milhões de reais) por sua captura. Para comparação, esse valor é mais que o dobro da quantia oferecida pelos Estados Unidos até à semana passada pela cabeça de Ibrahim Aqil, chefe militar da milícia Hezbollah, aliada do Irã. Ele foi morto num ataque israelense na última sexta-feira (20).
Excesso de mordomias e extensas comitivas em viagens externas são reveladores sobre a mania de grandeza de governantes. Sobretudo no caso de alguns latinos, quando o destino é Nova York, para discursar em reuniões na ONU sobre a fome, a pobreza e a opressão imperialista.
Em janeiro de 2003, pouco depois da posse, Lula saiu de Brasília rumo a Paris na primeira viagem à Europa como presidente. Embarcou na primeira classe de um vôo comercial da TAM (hoje, Latam), com pequena comitiva. Os repórteres Leonencio Nossa e Eduardo Scolese relataram no livro “Viagens com o presidente” queixas de Lula sobre escassez de espaço a bordo para vestir um pijama.
Dois anos depois, em janeiro de 2005, ele estreava o Aerolula, um Airbus ACJ, versão corporativa do modelo A-319. Custou 57 milhões de dólares, a preços da época, pouco abaixo do que Chávez gastara com o seu Airbus presidencial (70 milhões de dólares).
Com 16 assentos reclináveis, múltiplas telas para distração, e comitiva de assessores vindo atrás, embarcada nos Boeings da “Felicidades Aéreas Brasileiras” — ironia burocrata com os serviços da FAB—, Lula passou a degustar o poder: “Tem hora em que estou no avião e, quando alguém começa a falar bem de mim, meu ego vai crescendo, crescendo, crescendo… Tem hora em que ocupo, sozinho, três bancos com o meu ego”, contou em 2010 ao deixar o Palácio do Planalto.
Como Nova York viu nos últimos cinco dias, Lula voltou.