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Informação e análise
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No Ministério da Saúde, muitos mandam e cada um faz o que quer

Bolsonaro e seu talibã da cloroquina produziram uma liquefação da governança. População superou a anarquia na pandemia e 69% já estão imunizados

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 jan 2022, 14h03 - Publicado em 23 jan 2022, 08h00
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  • Jair Bolsonaro transformou o Ministério da Saúde no melhor retrato do seu governo — um lugar onde muitos mandam, inclusive ele, e cada um faz o que bem entende.

    Sua crença no “milagre” em pílulas contra o vírus da Covid-19 pode até ser caso de estudo de psicopatia na política, da mesma natureza que o levou, quando deputado federal, a liderar o lobby da liberação da fosfoetanolamina, “a pílula da cura do câncer”.

    Nunca houve comprovação científica de eficácia, mas a comercialização das pílulas miraculosas do “dr.” Bolsonaro acabou autorizada em lei pelo Congresso e sancionada por Dilma Rousseff. O Supremo vetou, a pedido de entidades médicas.

    Na pandemia, essa obsessão por um elixir conduziu o governo a atuar contra o interesse público. A substituição da política de Saúde pela política na Saúde produziu um pandemônio governamental na gestão da pandemia.

    Na contagem de 622 mil mortos até ontem à noite está refletida a perda de controle da maior tragédia sanitária do século num país equipado com um sistema de saúde reconhecido pela eficiência na vigilância e controle de epidemias pela vacinação em massa — da varíola à gripe.

    Nesse trágico enredo, o Ministério da Saúde virou um centro operacional de interesses pessoais, políticos e eleitorais sob a guarda, primeiro, do general Eduardo Pazuello, depois do cardiologista Marcelo Queiroga.

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    A diferença entre eles é que o general parecia sincero na confissão pública ao lado do chefe: “Um manda, outro obedece.” Já o médico Queiroga simula.

    Numa sexta-feira (15) comandou mais um “ato” público de vacinação contra Covid-19 no Hospital Universitário Lauro Wanderley, em João Pessoa.

    Ele tem percorrido o Estado num ritual de pré-campanha pontuado por discursos contra adversários, recheados de autoelogios e permeados pela defesa do “governo conservador que tem o compromisso com a inocência das crianças nas escolas”.

    Está na lanterna nas pesquisas para o governo estadual, cerca de 37 pontos percentuais abaixo do governador João Azevêdo, do Partido Cidadania, que batalha pela reeleição.

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    Menos de uma semana depois, na última quinta-feira (20), Queiroga desembarcou em Lençóis Paulista, a mil quilômetros de Brasília. Viajou a pedido de Bolsonaro, acompanhado de Damares Alves, ministra da Mulher e da Família, para visitar uma criança que sofrera parada cardíaca horas depois de ser vacinada contra a Covid-19. Como Queiroga, Damares demonstra ansiedade por um mandato.

    Os movimentos dos ministros-candidatos em Lençóis ajudou a semear suspeitas sobre a vacinação de crianças. Damares, por exemplo, fez estardalhaço sobre a visita, e, por conveniência, se “esqueceu” de mencionar o laudo técnico isentando a vacina da parada cardíaca.

    Faz parte do seu padrão de comportamento. Numa reunião ministerial, em abril de 2020, chegou a dizer que pediria “a prisão de governadores e prefeitos” porque “idosos estão sendo algemados e jogados dentro de camburões no Brasil, mulheres sendo jogadas no chão e sendo algemadas” quando supostamente resistiam às medidas de prevenção sanitária. Nunca pediu, nada provou e do episódio restou apenas o eco de um delírio.

    Queiroga seguiu na trilha de Damares. Também omitiu o laudo e, somente 24 horas depois, autorizou o ministério a confirmar a conclusão a favor da vacina.

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    Helio Angotti, secretário do Ministério da Saúde: nota
    Helio Angotti, secretário do Ministério da Saúde: contra a vacina e a favor da cloroquina — (Walterson Rosa/ Ministério da Saúde/Divulgação)

    Ao mesmo tempo, um de seus secretários, Helio Angotti, divulgava uma nota “técnica” contra a vacina e a favor da difusão da cloroquina e seus derivados no “tratamento” da Covid-19.

    Foi além, ao jogar no lixo o conjunto de diretrizes apresentado por uma comissão técnica do próprio ministério que sugeria a vacinação em massa e desqualificava as pílulas miraculosas do kit Covid prescritas pelo “dr.” Bolsonaro.

    Queiroga fez de conta que nada viu, leu ou ouviu, confirmando a diluição da própria autoridade no ministério onde muitos mandam e cada um faz o que bem entende.

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    À distância, Julio Croda, pesquisador da Fiocruz, observou: “Já passou de ato de autonomia médica para algo criminoso”. Tem razão.

    Por sorte, o eleitorado percebeu os riscos da liquefação da governança na pandemia, e, com receio da morte, reduziu Bolsonaro e o seu talibã da cloroquina à absoluta irrelevância: ontem à noite mais de 148 milhões de brasileiros (69% da população) já estavam totalmente imunizados, com duas doses ou dose única de vacina contra a Covid-19.

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