Lula pôs na mesa a carta da reeleição. “Não quero discutir reeleição em 2026 porque tenho apenas um ano e sete meses de mandato”, disse aos repórteres Cássia Godoy e Mílton Jung, da rádio CBN. “Tem muita gente boa pra ser candidato, eu não preciso ser candidato. Mas, presta atenção, se for necessário ser candidato para evitar que os trogloditas que governaram esse país voltem a governar, pode ficar certo que meus 80 anos virará em 40 e virarei candidato. Mas não é a primeira hipótese.”
Ele está em campanha desde o primeiro dia do terceiro mandato, e passou a definir seus discursos em viagens domésticas como “comícios”. Se haverá Lula de novo na tela da urna eletrônica só será possível saber mais adiante, passadas as eleições municipais e, provavelmente, a partir do outono do ano que vem.
A ideia da reeleição contradiz sua promessa na campanha de 2022 de enviar ao Congresso projeto para acabar com a recondução de governantes. Não foi o primeiro a anunciar e não cumprir. Jair Bolsonaro fez exatamente o mesmo em 2018. Em Lula a contradição estava mais evidente porque, enquanto falava sobre o Brasil, defendia o “direito” à reeleição de aliados como os ditadores Daniel Ortega, na Nicarágua, e Nicolás Maduro, na Venezuela.
De toda forma, levantou a possibilidade de Lula candidato, de novo. E isso vai condicionar a percepção sobre seus atos no governo nos próximos 28 meses, até o primeiro turno eleitoral de 2026.
Ao pôr essa carta na mesa, antecipou um cenário que deve ser estimulante para a militância do Partido dos Trabalhadores e aliados, até agora entretida no debate sobre inércia do governo e sucessivas derrotas no Congresso, depois de um ano de recorde em aprovações legislativas — superou 2003, na contabilidade da Casa Civil.
Em contrapartida, vai acirrar ânimos na oposição que, por óbvio, definirá sua ação dentro e fora do Congresso sob a premissa da candidatura de Lula. Para integrantes do Centrão, onde mede-se ideologia pela régua do orçamento, soou como música. A antecipação do cenário da reeleição sugere novas e crescentes dificuldades para o governo no Congresso, uma oportunidade para a intermediação de facilidades legislativas.
É notável que no governo e na oposição, ninguém tenha questionado a ideia de Lula, de novo, aos 80 anos de idade quando completaria 37 anos no ofício de candidato único e permanente do PT à presidência da República. Talvez, a relevância tenha se tornado relativa na paisagem de liquefação política.