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Lula cria crises, enquanto Senado negocia acordo com governadores

Acerto sobre dívidas estaduais retiraria da mesa de Lula um problema de 764 bilhões de reais, mas ele prefere o entretenimento dos embates com "o mercado"

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jul 2024, 12h32 - Publicado em 3 jul 2024, 08h00

Lula resolveu brigar com a própria imagem no espelho da economia.

Num dia reclama dos 630 bilhões de reais em isenções fiscais, na maior parte penduradas no orçamento federal durante seus dois governos e o de Dilma Rousseff. Mas, até agora, pouco ou nada fez para a redução desses privilégios.

No outro, tateia limites de uma crise de câmbio, inflação e juros. Como fazendeiro dançando em volta da fogueira no mato seco do Pantanal, anuncia que vai escolher entre cortar gastos e aumentar a receita (leia-se aumentar tributos). Mas, avisa, não pretende reduzir despesas.

Enquanto isso, a vida real flui na outra margem da Praça dos Três Poderes. O Senado avança na mediação de um acordo sobre a dívida dos Estados com a União. A noite de terça-feira (2/7) terminou com perspectivas razoáveis. O êxito, se confirmado, vai abrir caminho para a aprovação de uma legislação específica em até dez dias.

No governo e no PT dizem que, para Lula, um acordo sobre a dívida dos Estados não proporciona um décimo do prazer eleitoral de anunciar obras de cem institutos federais de educação nos Estados, onze deles em São Paulo, na temporada de eleições municipais.

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Essa, talvez, seja a explicação mais plausível sobre a sua preferência pelo entretenimento eleitoreiro nos embates com “o mercado”, omitindo-se na costura do entendimento com os governadores, conduzida quase solitariamente por Rodrigo Pacheco, presidente do Senado.

O que está em jogo não é pouca coisa. Se houver acordo, automaticamente sai da mesa de Lula um problema de 764 bilhões de reais — 18% maior que a bolada de isenções fiscais aninhadas no orçamento público e sancionadas em privilégio de segmentos privados com poder de influência nas decisões do governo e do Congresso.

São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul concentram nove em dez reais das dívidas estaduais com a União. Nesses Estados Lula teve desempenho abaixo das próprias expectativas na eleição presidencial de 2022.

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Caso sentasse à mesa com os governadores para resolver o impasse de uma dívida impagável, Lula, certamente, ouviria queixas que poderia considerar desagradáveis, mas realistas e parecidas com as que repete desde 1989 sobre a ganância do “mercado”.

De Ronaldo Caiado, governador de Goiás na luta por uma vaga de candidato presidencial em 2026, escutaria: “Não se pode ter um nível de agiotagem como esse, em que você tem um aumento exponencial de uma dívida de 283 bilhões de reais, em 2015, que passa para 500 bilhões. Isso não é justo”.

Ouviria, também, o lamento de Eduardo Leite, governador do devastado Rio Grande do Sul, epicentro de alguns dos mais relevantes movimentos autonomistas e republicanos no século passado: “Temos uma calamidade, e ainda temos que fazer um pagamento à União que consome 15% da nossa receita corrente líquida”.

Entre queixas e reclamações dos governadores, Lula farejaria a mesma coisa que o senador Rodrigo Pacheco percebeu, eventualmente movido pelo interesse na candidatura ao governo de Minas em 2026: uma oportunidade política. No caso, a chance de conduzir um acordo nacional.

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