As fraudes no Pix, mecanismo gratuito de pagamentos instantâneos, ultrapassaram a média de R$ 10 milhões por dia. Significa que as trapaças digitais estão rendendo, na média, pouco mais de R$ 416 mil por hora somente no Pix.
Em pelo menos um mês, neste semestre, os golpes somaram R$ 312 milhões. Não é pouco, equivale a 260 mil salários mínimos, dimensão da folha da Previdência Social em Sergipe.
É, ainda, uma quantia superior à reservada no fundo orçamentário para financiar as campanhas eleitorais do Partido Liberal (R$ 288 milhões), entre elas a candidatura de Jair Bolsonaro à reeleição.
Fraudes no Pix dependem da existência de, no mínimo, duas contas — a que paga e a que recebe. Para dificultar o rastreamento, golpistas usam intensivamente contas intermediárias, a maioria em nome de “laranjas”.
Como todo o processamento é eletrônico, o estelionato é rastreável. Os bancos, no entanto, hesitam.
Num aspecto, em aperfeiçoar a segurança para “limpar” a contaminação do sistema que os deixa na condição de hospedeiros das redes de fraude e, em última análise, da lavagem de dinheiro obtido de forma ilícita.
Noutro, na ambiguidade sobre a responsabilidade em padrões de indenização — ao contrário das operações com cartão de crédito, para os quais vendem seguro.
O Banco Central começou a pressionar as casas bancárias. Quer que mapeiem, resolvam as próprias falhas de prevenção e criem uma rotina de relatos aos órgãos de segurança sobre as redes de fraudes.
Os golpes são pequenos em proporção ao volume de operações no Pix (R$ 785 bilhões no mês de março). Mas a disseminação, combinada à relutância dos bancos nas indenizações aos clientes, passou a representar ameaça potencial àquilo que mecanismo de pagamento tem de melhor e que lhe garante o status de meio transformador das relações na economia digital brasileira — a confiança.