Os Estados Unidos anunciaram nesta terça-feira (30/4) uma mudança histórica na política sobre drogas.
O procurador-geral Merrick Brian Garland recomendou à Casa Branca a flexibilização das restrições à maconha.
Ele teve apoio do Departamento de Justiça, de órgãos federais de saúde e, também, da agência de repressão ao tráfico de drogas, conhecida como DEA (sigla em inglês).
Garland propôs a reclassificação da maconha. Passaria a ser considerada droga de baixo risco, do mesmo nível de medicamentos anestésicos como ketamina, os anabolizantes e a testosterona.
Se aprovada pelo governo Joe Biden, a consequência prática dessa reclassificação será incentivo o plantio e a produção legalizada de derivados da planta para uso em quase toda a base industrial — farmacêutica, têxtil e embalagens, por exemplo.
A flexibilização é parte de um jogo econômico relevante.
Os EUA têm avançado no domínio da pesquisa, fabricação e comércio mundial de medicamentos à base de maconha, indicados no tratamento de esclerose múltipla, epilepsia, diabetes, AVC, câncer terminal, autismo, doenças de Parkinson e Alzheimer, entre outros.
Há dois anos, o Congresso americano iniciou um debate sobre a abertura do sistema financeiro às empresas legalizadas no cultivo, comércio e industrialização da maconha.
Análises prospectivas, como as da New Frontier Data, sugerem o nascimento de um parque industrial especializado no processamento de maconha dentro dos EUA, na próxima década, com um milhão de empregados e pagamento anual de 132 bilhões de dólares em impostos.
Em 39 Estados americanos e na capital já existem programas legalizados para maconha de uso medicinal e em 24 permite-se uso recreativo. Em três Estados que legalizaram o uso (Colorado, Washington e Oregon), segundo a New Frontier, a arrecadação anual de tributos já supera 1,3 bilhão de dólares anuais.
Outro efeito da legalização gradativa nos Estados Unidos é o impacto negativo sobre os negócios dos cartéis de drogas. Os preços despencaram no mercado clandestino. Na média, o tráfico de maconha do México para cidades americanas está reduzido a 20% do que era na década anterior, indicam os dados alfandegários.
Enquanto os EUA avançam na criação de uma nova fronteira de negócios, para garantir hegemonia no mercado mundial, no Brasil o debate patina no obscurantismo político.