Alguns dos principais dirigentes do PSDB passam o domingo dividindo a atenção entre as prévias do partido, para escolha do candidato na disputa presidencial de 2022, e as eleições no Chile. Há mais do que motivos sentimentais em jogo — foi em território chileno que muitos se refugiaram nos primeiros anos da ditadura brasileira.
A eleição no Chile mostra como forças políticas de centro podem acabar pulverizadas num ambiente dominado pelo extremismo.
A campanha se desenvolveu numa “bolha” política, com pouca conexão dos partidos com a sociedade. O resultado, segundo as pesquisas, é que nenhum dos seis principais candidatos conseguiu conquistar um terço do eleitorado (13 milhões).
Os favoritos são representantes da extrema direita, José Antonio Kast, com média de 25% da preferência, e da extrema esquerda, Gabriel Boric, com 19%.
A imprevisibilidade do resultado é realçada pela expectativa de abstenção recorde. Na eleição da Constituinte, em junho, apenas 19% dos eleitores saíram de casa para ir às urnas. No plebiscito que autorizou a elaboração de uma nova Constituição, em outubro do ano passado, a participação havia sido de 51%.
Nesse curto-circuito político-eleitoral, os partidos de centro-esquerda e de centro-direita têm a perspectiva saírem das urnas eletrocutados, em papel secundário no próximo governo e com bancadas parlamentares pulverizadas.
Visto do eixo São Paulo-Brasília, onde se tentam construir alternativas atraentes para o eleitorado — e as prévias do PSDB são parte dessa estratégia — a incerteza potencializada na campanha do Chile encerra lições sobre o que o “centro” não deve fazer em 2022.
No PSDB, por exemplo, já se discutia como evitar o predomínio da polarização. Agora se debate, também, como vencer a apatia dos eleitores. No espelho chileno ela mostra o risco de um colapso partidário.