“Quem recebe Auxílio Brasil, que é de 400 reais e vai passar para 600 reais só até dezembro deste ano, está sendo hoje assediado pelos bancos com a seguinte proposta: comprometer até 40% da sua renda do valor do auxílio emergencial com um empréstimo consignado de até 2.400 reais. Para quem está passando a mais grave dificuldade, que é o caso de 100% dos beneficiários do Auxílio Brasil, receber 1 mil, 1.500 reais ou 2.000 reais de uma vez parece irresistível, mas aí que está a jogada. Quem aceitar receber o empréstimo consignado vai ter que pagar a dívida em 24 meses a uma taxa anual de 79% ao ano. Isso mesmo, 79% de juros ao ano. E pior: nem se quiser, essa pessoa vai poder deixar de pagar as parcelas, porque nesse sistema de crédito consignado o banco que fez o empréstimo vai descontar o que tem a receber direto do auxílio emergencial. E, vale lembrar, nós não estamos falando de pessoas que têm uma perspectiva de melhorar de vida a médio prazo, que tem um pequeno negócio que dali a pouco pode prosperar. Não é disso que se trata. Nós estamos falando de pessoas abaixo da linha de pobreza, que recebem o auxílio emergencial para não morrer de fome. O fato do Bolsonaro ter dado sinal verde para essa monstruosidade não me surpreende, porque a maldade e ódio aos mais pobres está no DNA dele do seu governo. Mas o Congresso Nacional aprovar uma proposta dessas? Como é que pode? Tenham paciência! E esses banqueiros que já ganharam tantos bilhões? Que ganância é essa sem limite? Olha, se eu quisesse vender a minha alma para o sistema já teria sido presidente do Brasil. E quando falo em vender a alma me refiro a ficar calado em relação a assuntos como esse, que é o que o senhor Lula está fazendo. É uma vergonha! Como alguém que se arvora em se dizer líder de esquerda não dá uma palavra? É porque está vendido mais uma vez ao sistema financeiro. Assim, ele não compra briga com os donos do dinheiro e fica tudo bem.”
(Ciro Gomes, candidato presidencial do PDT.)