Depois de receber o controle absoluto da execução do Orçamento da União, o Centrão assume o comando da campanha da reeleição de Jair Bolsonaro.
Entre as primeiras decisões se destacam: uma ofensiva contra o adversário Lula, líder nas pesquisas, com estímulo ao antipetismo; e, a negociação com Bolsonaro para indicação do candidato a vice-presidente.
Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil e presidente licenciado do Partido Progressistas (PP), deverá atuar como chefe de campanha dentro do Palácio do Planalto.
Ele ganhou o aval dos demais integrantes da cúpula do PP e de Valdemar Costa Neto, dono do Partido Liberal. Costa Neto abrigou Bolsonaro no PL para a disputa presidencial, com direito a financiamento e à escolha de alguns candidatos na sua base eleitoral, o Rio, e em São Paulo.
No curto prazo haverá um esforço concentrado para turbinar a candidatura de Bolsonaro nas pesquisas eleitorais.
Ele tem oscilado em torno de 25% das intenções de voto, com propensão ao declínio. Considera-se possível não apenas reverter essa tendência como, até abril, superar o atual patamar de preferência.
O plano prevê movimentos imediatos e coordenados em duas direções.
Uma é a intensificação de ações de governo em colégios eleitorais considerados relevantes. Seria acompanhada de uma “suavização” da retórica de Bolsonaro sobre temas como a vacinação contra a Covid-19 — na campanha antivacina, ele e o governo acabaram atropelados pela sociedade.
Outra é o estímulo à rejeição a Lula e ao PT.
As pesquisas mostram Bolsonaro na liderança isolada no repúdio, com seis de cada dez eleitores declarando que não votaria nele “de jeito nenhum”. É o dobro da taxa rejeição que possuía (30%) no início da campanha eleitoral de 2018.
Na época, quatro em cada dez consultados nas pesquisas diziam que não votariam em Lula — e nem poderiam, ele já estava impedido pela Lei da Ficha Limpa, porque havia sido condenado pela segunda vez por corrupção seis meses antes. Lula continua com o mesmo nível (40%) de rejeição neste início de temporada eleitoral.
Os líderes do Centrão sugeriram a Bolsonaro agir para reforçar o antipetismo no eleitorado, com foco no histórico atribulado dos governos Lula e Dilma.
Pretendem recordar episódios de corrupção nas administrações petistas. E as sequelas econômicas que levaram à recessão de 2015 e 2016. Nesse período, o Produto Interno Bruto (PIB) despencou 8%. Dilma acabou apeada do poder num impeachment por fraudes fiscais.
Como todo plano, o problema é a vida real. Nesse caso, o imponderável é fator intrínseco e tem farta descrição no noticiário dos últimos 36 meses: Jair Bolsonaro.
Aspecto relevante, também, é o paradoxo do Centrão, cujos líderes atravessaram 13 anos aliados a Lula e a Dilma — com ela, até à véspera do impeachment.
O PL foi protagonista do Mensalão do PT e seu dono, Costa Neto, acabou na cadeia. Já o PP de Ciro Nogueira e de Arthur Lira, presidente da Câmara, foi o campeão de políticos, com e sem mandato, investigados nos casos de corrupção nos governos petistas.
Não se sabe como o Centrão e Bolsonaro pretendem lidar com essas questões. Caso sigam o manual da metamorfose política, podem jogar a culpa no PT, replicando Homer Simpson, personagem do cartunista Matt Groening, quando gritava: “A culpa é minha, e eu coloco ela em quem eu quiser!”