Bolsonaro tenta sobreviver como candidato relevante nas ruas
Julgamento no TSE deve dar-lhe algum conforto, mas comício vazio em BH mostrou que vida de candidato inelegível, sem perspectiva de poder, é grande desafio
Jair Bolsonaro deverá sair do banco dos réus com algum conforto no seu segundo julgamento no Tribunal Superior Eleitoral por acusações de delinquências na eleição do ano passado — entre elas, abuso de poder e conduta proibida a agentes públicos em campanha eleitoral.
No melhor cenário, será absolvido. O Ministério Público recomendou o arquivamento das três queixas judiciais apresentadas pelo PT e o PDT, hoje aliados no governo Lula.
A procuradoria acha que não há provas suficientes de irregularidades nem evidências de que os supostos abusos de poder político tiveram algum impacto na eleição.
É pouco provável que os juízes rejeitem a sugestão da procuradoria, representante do estado na acusação. Mas não é impossível.
Uma condenação, no entanto, não teria nenhum efeito prático na vida de Bolsonaro, que já está inelegível e não pode ser punido duplamente por um mesmo crime.
Ele até poderia considerar uma “vitória” a eventual sentença condenatória. Ela apenas reafirmaria a decisão anterior do tribunal que o deixou de fora das disputas eleitorais por oito anos, contados a partir da data das eleições de 2022, o domingo 2 de outubro.
Seria a reiteração pública de uma boa notícia para Bolsonaro: pelo calendário, ele estará reabilitado na sexta-feira 4 de outubro de 2030. Portanto, judicialmente apto para disputar as eleições marcadas para 48 horas depois, no domingo 6 de outubro.
Bolsonaro enfrenta o desafio de sobreviver como candidato potencialmente relevante nas ruas. No último fim de semana decepcionou-se com uma praça esvaziada em Belo Horizonte, onde comandou um comício pela restrição dos direitos civis das mulheres em situações como a de aborto. Para qualquer candidato, a vida na planície, sem perspectiva de poder, já é muito difícil. Para políticos inelegíveis por longo prazo, é aventura de alto risco.