Na quinta-feira, 22 de junho, Jair Bolsonaro tem um encontro marcado com a Justiça Eleitoral. Vai a julgamento, sob acusação de abuso de poder na campanha do ano passado.
Semanas antes da eleição, Bolsonaro usou recursos públicos e mobilizou a rede estatal de televisão na promoção de um evento com embaixadores estrangeiros para disseminar acusações de fraudes no sistema eletrônico de votação.
Não apresentou uma única prova e os embaixadores não lhe deram crédito, mas sobraram suspeitas sobre o objetivo — o tumulto do processo eleitoral.
O julgamento marca o retorno de Bolsonaro à condição de réu num processo decisivo à sua carreira e biografia.
Esteve nesse papel 35 anos atrás no Superior Tribunal Militar, depois de ter sido excluído da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais “em nome da honra militar”, como definiu na época.
Aos juízes, negou a autoria de um plano para explosão de bombas dentro de quartéis do Exército — divulgado por VEJA com os croquis que ele desenhou e entregou para divulgação. Um deles, José Luiz Clerot, classificou-o como “louco” protagonista do “fato mais grave, de repercussão negativa maior, de maior conteúdo antiético, de maior conteúdo violador das normas, da disciplina e da hierarquia, que já se passou por esse país no âmbito das Forças Armadas”. O julgamento no STM está descrito no belo livro O Cadete e o Capitão, de Luiz Maklouf Carvalho.
Beneficiário do corporativismo de caserna, Bolsonaro acabou absolvido, trocou o Exército pela carreira política e, por trapaça da história, acabou na Presidência da República.
Desta vez, está em situação desfavorável. Os autos do processo eleitoral sugerem ser difícil uma absolvição, pelo excesso de provas disponíveis. Eventual condução poderá deixá-lo fora das disputas eleitorais por oito anos — até 2030 no mínimo, dependendo da data de referência para contagem de tempo da punição.
Se confirmadas as previsões sobre a sentença, Bolsonaro estaria interditado como candidato, mas continuaria com capacidade de influência eleitoral — já atua na pré-campanha para a Prefeitura de São Paulo, tendo ajudado a escantear seu ex-ministro Ricardo Salles da competição com o prefeito Ricardo Nunes.
Bolsonaro inelegível deixaria Lula sem o inimigo predileto dessa etapa de liquefação da política nacional, cujo início alguns localizam nos protestos de junho de 2013. Isso tende a ter peso específico na sua decisão sobre a eleição de 2026, quando vai completar 37 anos no ofício de candidato presidencial permanente do Partido dos Trabalhadores.