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A ponte para o futuro de Aécio e Bolsonaro

Pode ser o começo de uma bela amizade política. Se confirmada, Aécio tem pelo menos uma novidade, à margem da defesa judicial, para o livro que anuncia

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 jun 2021, 09h00
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  • Aos 61 anos, 35 deles com mandatos eletivos, o deputado mineiro Aécio Neves (PSDB) tem uma história de vida na política para contar. Anuncia um livro, para breve.

    Poderá ser útil aos historiadores, se apresentar uma obra que vá além da defesa judicial nos casos de corrupção em que se desgastou nos últimos sete anos. Principalmente, se moderar a modéstia sobre os próprios erros na construção da biografia.

    Aécio tem um encontro marcado com o eleitorado de Minas Gerais dentro de quinze meses.

    Será a sua nona eleição, desde que deixou a diretoria de loterias da Caixa Econômica Federal, em 1986, para candidatar à Assembleia Nacional Constituinte. Pelo voto já acumula dezenove anos na Câmara dos Deputados — que presidiu—, obteve um mandato no Senado e outros dois no governo mineiro.

    A disputa presidencial de 2014 foi o seu momento de êxtase. Rompeu a hegemonia de São Paulo sobre as candidaturas presidenciais do PSDB e, no segundo turno, ficou com com 51 milhões de votos (48,3%) dos válidos. Perdeu por uma diferença de 3,4 milhões para Dilma Rousseff (PT), reeleita.

    Se passaram sete anos, mas até hoje Aécio insiste em passar a impressão de que não digeriu essa derrota.

    Conferidos os votos e confirmado o seu infortúnio, correu à Justiça Eleitoral com o pedido de “auditoria” nas urnas eletrônicas. Realizada, não se apurou impropriedade, simplesmente porque não ocorreram.

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    Antes do Natal daquele 2014, no entanto, ele apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral um legítimo protesto contra a vitória dos adversários por “abuso de poder, tanto político quanto econômico”. Embora derrotado, reivindicava ser declarado vitorioso.

    Não acreditava que o processo fosse até o fim, mas seguiu mesmo depois do impeachment de Dilma em 2016. Se mostrou surpreendido quando o juiz-relator Herman Benjamin começou a expor a dimensão das relações dos candidatos presidenciais e seus partidos (PSDB, PT e MDB) com os financiadores de campanhas.

    Michel Temer, vice de Dilma, já governava quando Aécio pensou em retirar a ação. A proposta partiu de Temer, ele contou em conversa gravada pelo empresário Joesley Batista.

    “A Dilma caiu, a ação continuou, e ele [Temer] quer que eu retire a ação”- disse. “Cara, só que, se eu retirar, e não estou nem aí, eu não vou perder nada, o Janot [procurador-geral da República] assume, o Ministério Público assume essa merda.”

    Três meses depois, o tribunal eleitoral absolveu a dupla vencedora da eleição, Dilma e Temer. Por excesso de provas, na feliz ironia da jornalista Renata Lo Prete, na época.

    Desde então, Aécio mudou o foco da sua cruzada pela eleição perdida. Passou a dar ênfase à suspeita sobre a credibilidade do sistema eleitoral. Reivindica “auditagem” das urnas eletrônicas como “aprimoramento”, embora a única que tenha pedido tenha sido feita, e o resultado confirmado — contra ele.

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    O resgate do tema, agora, está sendo útil a Aécio na construção de uma ponte para o futuro com Jair Bolsonaro, que fez da semeadura de desconfiança sobre no voto eletrônico um item do marketing pela reeleição. Ambos possuem três décadas na política, e nunca exibiram prova de fraude nas urnas em que se elegeram.

    “Eu mais do que desconfio”- disse Bolsonaro, na noite de quinta-feira. “Eu tenho convicção de que realmente tem fraude. As informações que tivemos aqui, talvez a gente venha a disponibilizar um dia, é que em 2014 o Aécio ganhou eleições e que em 2018 eu ganhei em primeiro turno.”

    É difícil entender porque um presidente da República anuncia possuir provas de um crime grave — fraude eleitoral— e não apresenta, preferindo mantê-las em segredo (“Talvez a gente venha a disponibilizar um dia.”)

    É notável que Bolsonaro e Aécio estejam unindo forças com frações do PDT, do PSB e os partidos aglomerados no Centrão. para imposição do voto impresso, ou “auditagem”, na eleição do próximo ano — despesa nova estimada em R$ 2 bilhões a ser debitada no bolso do eleitorado.

    Pode ser o começo de uma bela amizade política, sempre mais fácil de se manter do que votos. Se confirmada, Aécio tem pelo menos uma novidade, à margem da defesa judicial, para a autobiografia que anuncia.

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