Minas de sal-gema em Maceió: tragédia anunciada há quatro décadas
Enquanto desabrigados sofrem com a tragédia ambiental, a política local só consegue olhar a sua própria manutenção no poder
O caso do colapso das minas de sal-gema da Braskem, exploradas na zona urbana de Maceió, é um exemplo histórico do descaso e da omissão das autoridades públicas de Alagoas.
Dessa tragédia, que já está anunciada desde os idos de 1979, podemos tirar duas tristes conclusões. A primeira é que Alagoas está mais para uma Capitania Hereditária do que para uma Unidade da Federação. Nesse estado em que o filhotismo impera nos três Poderes, não houve um político, uma autoridade do Judiciário Estadual (um juiz ou desembargador), um senador da República, governador de estado ou prefeito, que nesses anos todos agisse com energia, determinação e eficácia suficientes para interromper – a tempo de evitar efeitos desastrosos – o que técnicos e engenheiros da Universidade Federal de Alagoas já haviam previsto em diversas ocasiões.
A segunda é que há empresas que definitivamente não têm limites quando se trata da busca do lucro a qualquer custo. Não há risco ambiental que as façam retroceder. E esse parece ser o caso da Braskem, que explorou de forma temerária e irracional minas de sal-gema por 4 décadas, obtendo lucros astronômicos, e levando ao afundamento de cinco bairros na capital alagoana.
Os números do desastre são alarmantes. Os bairros de Bom Parto, Bebedouro, Mutange, Pinheiro e Farol estão prestes a afundar tragados pelo fenômeno conhecido como sinkhole, que é quando uma enorme cratera surge do afundamento da superfície, devido ao esvaziamento do subsolo. Já foram desocupados 14 mil imóveis e a previsão é que 200 mil habitantes sejam impactados.
Há uma CPI em vias de instauração no Senado Federal, que irá apurar a responsabilidade da Braskem no afundamento dos bairros de Maceió. Esperamos que a comissão – denominada CPI da Braskem – se fixe na apuração das responsabilidades do desastre ambiental.
Bom registrar que a instauração de uma CPI, mesmo que provocada por senadores alagoanos, não redime em nada a classe política daquele estado. Seria muito melhor que não tivessem permitido o que ocorreu. Agora tão somente correm atrás de um prejuízo que, se tivessem sido diligentes, poderia ter sido evitado.
E como não poderia deixar de ocorrer – principalmente em se tratando da política alagoana – há questões envolvendo uma disputa, entre grupos políticos rivais, pela indenização milionária que a Braskem se comprometeu a pagar. Tudo por conta das eleições municipais de 2024, e das ambições eleitorais para o pleito de 2026.
Money, money, money…
Enquanto desabrigados sofrem com a tragédia ambiental, a política local só consegue olhar a sua própria manutenção no poder.
Pobre do povo de Alagoas.