Quis a natureza que dois fenômenos sensacionais coincidissem na mesma época do ano no sul e sudeste do Brasil: a floração dos ipês roxos e das cerejeiras do Japão. Na capital e interior de São Paulo, e do Rio Grande do Sul ao Paraná, mais ainda o sul de Minas, de vez em quando é possível ver, inclusive, as duas árvores em flor lado a lado. E essas conjunções fortuitas desvelam uma dobradinha com largo potencial paisagístico: por que, oras bolas, não combinar as cores tão afins de ipês roxos e cerejeiras nos jardins ou plantios urbanos?
Os ipês roxos são plantas de legítima origem nacional: várias espécies bem parecidas ocorrem ao longo do território brasileiro. A maioria delas se compõe de árvores de porte médio ou altivo, muito apropriadas para paisagens amplas – os ipês do Parque Ibirapuera, por exemplo, são um deleite a essa altura do inverno. Todo ano, eles são o primeiro tipo de ipê a florescer (em seguida, virão por aí o amarelo, o branco e o rosa – nessa ordem). E as flores chegam bem no momento em que a temperatura cai e o início do período de seca se anuncia. São como guardiões que prenunciam o final das chuvas.
Já as cerejeiras (ou sakurá), como o nome esclarece, vêm do Japão. E aqui sofreram uma adaptação biológica: em vez de florescer em março/abril, quando chega a primavera no Hemisfério Norte, elas passam a se cobrir com tons que vão do rosa claro ao lilás profundo na primeira metade do inverno brasileiro – ou seja, agora mesmo. Acontece nesta semana, aliás, a tradicional festa das cerejeiras promovida pela comunidade japonesa no Parque do Carmo, em São Paulo.
No vídeo abaixo, eu explico como cultivar e turbinar o florescimento das cerejeiras:
Por fim, fica a humilde dica do jardineiro: seja em duplas, seja em grandes fileiras de árvores, vale plantar cerejeiras alinhadas à frente dos ipês. Assim, quando elas crescerem, o ipê roxo fornecerá uma grande moldura para a cerejeira, que tem menor porte. E você terá um conjunto de duplo efeito espetacular a cada inverno.