A árvore foi plantada na frente da casa quando eu ainda era criança, mas parece que está lá desde a eternidade, em total harmonia com a mata nativa em torno. Dada a facilidade com que nasce, cresce e frutifica por todo o país, dá até a impressão de que o pé de jambo é uma espécie nativa. Mas não é: assim como a jaca ou a manga, a fruta veio da Índia. Trazida há séculos para o país pelas mãos dos colonizadores, tornou-se quase uma brasileira naturalizada.
E que ninguém reclame: a atual colheita de jambos amarelos naquela árvore simpática na frente da casa reavivou para mim o valor extraordinário dessa fruta. Com casca fina e carne firme, mas dotada de tenra delicadeza, o jambo é daqueles sabores sem igual da infância. E o perfume? É um aroma aconchegante que faz lembrar água de rosas, às vezes com toques de um levíssimo tutti frutti. Devorar um jambo é também se inebriar nesse aroma.
Mas vamos sair da divagação poética-botânica e ir ao que interessa: sim, você pode ter um pé de jambo, desde que tenha espaço para uma árvore de médio porte no quintal ou na calçada. Além das frutas, o jambeiro proporciona excelente sombra e é um suporte ideal para orquídeas, samambaias e bromélias. É comum, aliás, encontrar exemplares da fruta pelas ruas e jardins de São Paulo ou do interior do país. O plantio não tem segredo, já que o jambeiro é bem rústico. Pertencente à família das mirtáceas, a mesma da jabuticaba e da pitanga, ele é perfeitamente adaptado aos solos ácidos do Sudeste, além de crescer bem tanto no sol quanto na sombra (será mais produtivo, no entanto, se ficar a sol pleno).
Enquanto no centro-sul é mais comum o jambo-amarelo, ou Syzygium jambos, cujas frutas são superiores à beleza da árvore em si (apesar de sua floração magnífica e igualmente cheirosa), nos estados do Nordeste impera o jambo-roxo, ou Syzygium malaccense, em que ocorre justamente o contrário. Se o fruto do jambeiro-roxo é uma coisinha meio sem graça, o design da árvore compensa isso amplamente: com largas folhas verde-escuras e copa com notável formato de cone, elas ficam cobertas de flores de um lilás metálico e brilhante. Caminhar por baixo dos jambeiros durante a floração é como andar sobre um tapete de pétalas.
Resumindo: se você quer frutas boas, vá de jambo-amarelo; se busca uma árvore bela, invista no jambo-roxo.
Várias lendas falam do jambo na Índia. A principal delas reza que ele é a Árvore da Vida, da qual emana um caldo colorido e perfumado que desce das encostas do Himalaia para formar um grande rio. Não à toa, o pessoal da ioga e da medicina ayurvédica se encanta com a fruta.
No Brasil, o jambo-amarelo se deu tão bem que é considerado uma espécie invasora da Mata Atlântica. Eu, pessoalmente, tenho uma visão menos xiita sobre o assunto: se os passarinhos, macacos, morcegos e roedores nativos adoram e espalham a árvore por aí, é uma luta inglória tentar domar a natureza. Enquanto não represente um incômodo real para a mata, o jeito é conviver com o jambo.
Conviver e se esbaldar, claro: a colheita de seus frutos está acontecendo agora. Para dar conta da abundância de jambos produzidos por uma única árvore, dizem que é possível cortá-los, aferventá-los numa calda açucarada e conservá-los como compota por um bom tempo em vidros devidamente esterilizados. Mas nada supera o prazer de consumir os jambos colhidos na hora. Porque aquele perfume não pode ser aprisionado em nenhum doce ou conserva: é uma dádiva efêmera feita para se abraçar com os sentidos.