Recorde atrás de recorde. E não é de velocidade na natação, nem de peso na prova de levantamento. Ontem, Tóquio superou a marca de 3 000 novos casos de Covid-19 em um único dia, atingindo uma marca inédita desde o início da pandemia e batendo o recorde que havia sido registrado no dia anterior. Preocupada com o aumento dos números num cenário de falta de vacinas, correr para conseguir ser vacinada passou a ser uma prioridade na minha rotina.
Direcionada a grupos prioritários, como profissionais de saúde, a vacina contra Covid-19 começou a ser aplicada no Japão em meados de fevereiro deste ano. Idosos com mais de 65 anos passaram a receber a primeira dose em abril e, no dia 21 de junho, o programa se estendeu para pessoas com menos de 65 anos.
Nessa fase, o governo japonês abriu cadastros para que empresas grandes e universidades conduzissem seus próprios programas de vacinação, o que agilizaria o processo como um todo, já que a organização de agendamentos seria feita pelas próprias organizações. Na frente principal, teoricamente, estão as prefeituras, cada qual com seu cronograma, enviando cartas contendo um código para que cada residente possa agendar sua vacina. Paralelamente, clínicas particulares também passaram a aceitar reservas da população em geral. Minha esperança, nesse momento, era de que o desenrolar da campanha fosse rápido, já que faltava apenas pouco mais de um mês para a abertura oficial dos Jogos. Nada como uma boa pressão — ainda mais vinda de todo o resto do mundo.
Enquanto aguardava a minha carta, muitos amigos e conhecidos estavam já sendo vacinados por suas empresas. Alguns, com sorte, estavam conseguindo agendar via governo local. Maravilha. Comemoramos cada band-aid no braço como se fosse um lugar no pódio.
No dia 17 de julho, finalmente, com meu vale-vacina em mãos, entrei no site da prefeitura para fazer a minha reserva, mas… que decepção. Os agendamentos tinham sido suspensos por falta de estoque de vacina. Só não foi uma completa surpresa porque a notícia da falta de entrega de suprimentos em diversas cidades do Japão já estava circulando havia dias. Ainda assim, achava que teria chances.
Meu próximo passo foi tentar alguma sorte no Find a Doc, uma plataforma independente criada por LaShawn Toyoda, uma desenvolvedora americana que se dedicou a criar uma base de dados de clínicas que estão aplicando a vacina, junto de outros voluntários. Ao entrar em contato com as clínicas, porém, mais decepções. Nenhuma tinha disponibilidade de horário e muitas haviam suspendido as aplicações.
Mas com a ajuda da minha rede no Instagram, peguei a dica de uma clínica que estava com horários disponíveis para a reserva dela, da Pfizer. E-mail de confirmação na caixa de entrada e olhos marejados de emoção: num cenário em que não tem sido exatamente fácil ser inoculado, como é bonito ver gente torcendo pela vacina do outro, ajudando a compartilhar informações e vibrando por cada horário marcado para levar uma picada.
Pena que a alegria durou pouco. Há poucos dias, recebi um comunicado sobre o cancelamento da minha reserva por falta de abastecimento. E ontem, entre os Jogos passando na TV e as notícias no computador que mostravam o novo recorde de casos em Tóquio, me bateu um desânimo. Um desânimo de ter que entrar nessa maratona de checar diariamente a disponibilidade de agendamento pela prefeitura e pelas clínicas particulares, de monitorar a chegada de novos lotes e de torcer para conseguir ser vacinada.
Piti Koshimura mora em Tóquio, é autora do blog e podcast Peach no Japão e curadora da Momonoki, plataforma de cursos sobre o universo japonês. Amante de arquitetura e exploradora de becos escondidos, encontra suas inspirações nos elementos mundanos. (@peachnojapao | @momonoki_jp)