Entre 2006 e 2013, um técnico forense da polícia de Miami, sujeito de ar pacífico e aspecto comum, fascinou o público: analista de padrões de sangue em cenas de crime durante o dia, fora do expediente Dexter Morgan criava as próprias cenas de horror, torturando e matando vítimas selecionadas — sempre pessoas merecedoras dessa sentença, no seu juízo. Se em oito temporadas Dexter não esgotou sua premissa, muito se deve à maneira como o ator Michael C. Hall explorou aquela área permeável entre a vida pública e a vida secreta do protagonista. Quando a barreira se desfez em tragédia pessoal, Dexter sumiu. Dado como morto, ele passou fora de cena os últimos oito anos, até ressurgir em Dexter: New Blood (Estados Unidos, 2021), bem vivo, no frio do norte de Nova York, com nova identidade e regenerado. Ou é o que ele crê.
Retomar uma série há muito encerrada pode ser uma temeridade. Mas, nos dois episódios antecipados para a imprensa, New Blood, que estreia nesta segunda-feira, 8, na Paramount+, apresenta bons argumentos para a sua existência. Dexter se acredita mudado, mas não perdeu o gosto pelo perigo: namora a chefe de polícia da cidadezinha e controla seus impulsos à base de “conversas” com a irmã morta (Jennifer Carpenter). A barragem, é claro, se rompe, e Dexter percebe que não é mais o mesmo: antes tão meticuloso, ele desta vez sucumbe à raiva, descuida-se, deixa pistas e quase se expõe para alguém muito próximo.
O maior confronto, porém, é sempre o de Dexter consigo mesmo. Encontrado na infância em uma cena de homicídio, ele foi adotado por um policial que, notando a crueldade do menino com animais e prevendo onde isso iria dar, ensinou-o a ser um assassino indetectável e escolher presas só entre os piores predadores. “Me espantava que o público aceitasse com relativa tranquilidade esse dado: tem de haver alternativas a treinar um menino a ser um serial killer, não?”, disse Hall a VEJA. New Blood sugere que o próprio Dexter, agora, terá de formular uma resposta a essa pergunta.
Publicado em VEJA de 10 de novembro de 2021, edição nº 2763
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