Para mim, é como se tivesse sido ontem: os anos de 2001, 2002 e 2003 terminaram com as sessões de imprensa mais apinhadas que já vi na vida (e isso ocupando várias salas ao mesmo tempo) e a sensação, que então ainda era nova, de algo que parece feito para continuar para sempre. Mas, em 19 de dezembro deste ano, O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel vai completar a maioridade – e já nos primeiros dez segundos de créditos, que anunciam “uma produção AOL Time Warner”, já dá para ver como o tempo passou (aos que não eram nascidos ou pelo menos ainda não trocavam e-mail: AOL, ou America OnLine, era então o gigante da internet, mais ou menos como a finada PanAm foi um dia a gigante da aviação comercial). Rever a trilogia do neozelandês Peter Jackson, portanto, é como voltar ao mundo pré-Marvel, com seus universos que não param de se desdobrar – e também pré-redes sociais, pré-ironia, pré-virulência, pré-polarização. Fantasias não são para todos os paladares mas, para quem gosta do sabor, O Senhor dos Anéis foi virtualmente uma unanimidade e uma oportunidade de congregação. No cinema, durante três horas ou mais, admiravam-se o valor, a coragem e a abnegação de Frodo, Aragorn, Gandalf e seus demais companheiros, temia-se o avanço das forças sombrias e insidiosas do mal e, sobretudo, mergulhava-se na imaginação prodigiosa do autor J.R.R Tolkien e de Peter Jackson, que durante os vários anos de produção meio que transformou a Nova Zelândia na Terra Média.
Mas e quem nunca viu O Senhor dos Anéis? (E, a esta altura, deve haver muita gente que não viu.) Recomendo: veja – no fim do próximo parágrafo digo onde está disponível. É algo feito com dinheiro e efeitos, sim, mas mais ainda com a dedicação de uma equipe imensa que teve de inventar recursos que simplesmente não existiam para que a visão de Tolkien fosse respeitada. Das armas brancas feitas artesanalmente aos avanços extraordinários da Weta Digital na performance capture que deu vida verdadeira a Gollum, a trilogia desbravou muitas trilhas. Os filmes não são perfeitos (daria para contar nos dedos de uma mão os que o são): como a fotografia principal de todos eles foi feita ao mesmo tempo, em um verdadeiro esforço de guerra, às vezes a direção de atores deixa algo a desejar; e alguns maneirismos de Jackson hoje parecem um pouco datados. Mas os três filmes, e especialmente o do meio, As Duas Torres, são arrebatadores, épicos, fervilhantes, empolgantes. São lindos, também – o cuidado empenhado na qualidade dos efeitos e dos cenários garantiu que ainda hoje eles pareçam assim. O elenco é definitivo: um ator tem que ser louco ou ter quantidades desproporcionais de autoconfiança para interpretar Gandalf depois de Ian McKellen ou encarnar Aragorn depois de Viggo Mortensen. E a trilha de Howard Shore continua uma coisa maravilhosa, na inspiração com que foi composta e na complexidade com que combina seus temas diversos para dar unidade ao filme. Só tenho uma queixa: a iTunes Store é a única plataforma de streaming em que se encontram as versões estendidas dos três filmes, remontadas a bico de pena por Jackson. Cada uma delas tem por volta de quatro horas de duração, e todas passam ainda mais rápido que as versões originais de cinema, tal a fluidez com que transcorrem.
Se quiser saber um pouco mais, leia aqui as resenhas de A Sociedade do Anel, As Duas Torres e O Retorno do Rei publicadas na ocasião do lançamento de cada um dos filmes.
Onde encontrar: a trilogia completa está na iTunes Store (nas versões original e estendida), no Looke e no GooglePlay. Por razões misteriosas, o primeiro e o terceiro filmes estão disponíveis na Netflix e no PrimeVideo – mas não o segundo filme, que está na HBO GO.