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Isabela Boscov

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Homem-Formiga

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Por Isabela Boscov Atualizado em 11 jan 2017, 16h00 - Publicado em 22 jul 2015, 17h00
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    Apesar do histórico turbulento da produção, Homem-Formiga é um sucesso criativo muito maior que a soma de suas minúsculas partes.

    Para deixar um fã de quadrinhos amuado não é preciso mais do que demonstrar ignorância acerca desse universo – basta dizer, por exemplo, que um super-herói cuja super-propriedade é ficar do tamanho de uma formiga é uma ideia meio besta, ou pelo menos sem nenhum sex appeal. O Homem-Formiga, rebaterá o aficionado, é um dos Vingadores originais e já estava lá, na capa do gibi, na primeira edição em que o supergrupo da Marvel surgiu, em 1963. É um clássico, e é capaz de coisas superincríveis quando veste o traje que o miniaturiza e o torna tão veloz, potente e mortal quanto uma bala. E, no entanto, a decisão de dar a esse herói diminuto o seu próprio filme foi desde o início alvo de ceticismo dentro da própria Marvel. Foi, também, objeto de muita discórdia: depois de treze anos a cargo dos ingleses Edgar Wright e Joe Cornish, o roteiro ocasionou uma briga – e o projeto voltou quase à estaca zero já às vésperas da filmagem. Indício de que essa era por princípio uma má ideia, certo? De maneira nenhuma: Homem-Formiga, já em cartaz no país, está para esta nova fase da Marvel como o primeiro Homem de Ferro esteve para o lançamento do estúdio, em 2007 – é uma surpresa, uma inovação na abordagem do gênero e um sucesso criativo.

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    Hank Pym, o cientista que inventou a tecnologia para reduzir o espaço entre os átomos e assim condensar seres vivos – e foi o Homem-Formiga original – não mais veste seu traje especial, que dá ainda ao usuário a capacidade de comandar exércitos de formigas de várias espécies. Ciente dos perigos que sua invenção poderia trazer nas mãos erradas, Pym (Michael Douglas) tanto fez para escondê-la que acabou sendo afastado do comando de sua própria empresa por seu ex-pupilo Darren Cross (Corey Stoll) e por Hope (Evangeline Lilly), a filha que não o perdoa por um erro do passado. Cross, porém, está a poucos passos de conseguir replicar o invento, e é preciso detê-lo antes que ele vire a supervespa Jaqueta Amarela. Pym acredita ter um candidato para a tarefa: Scott Lang (Paul Rudd), um engenheiro eletrônico que acaba de sair da prisão por ter se apropriado sem permissão de dinheiro que não lhe pertencia – mas para restituí-lo a pequenos investidores prejudicados pela ganância de uma corporação. Lang tem, portanto, senso de justiça. Tem também habilidades de gatuno, e motivação: quer merecer o respeito da filha pequena. E está na pindaíba, cada vez mais tentado a voltar à vida de crime. Basta Pym promover um encontro casual entre Lang e o traje miniaturizador e pronto, eis aí o novo Homem-Formiga (nas revistinhas, Lang assumiu o personagem em 1979).

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    Esse, claro, é o cenário genérico de todo filme de super-herói. Homem-Formiga, porém, o utiliza apenas como moldura para enquadrar uma comédia (no interior da qual há ainda um filme de roubo). Até as cenas de ação são cômicas: batalhas colossais, edificações vindo abaixo, trens descarrilando; corte para a escala humana e tudo que se vê é uma minúscula comoção entre os brinquedos de um quarto de criança. Entende-se, agora, por que a Marvel mirou em Paul Rudd, cuja carreira, depois de um início tateante como galã, deslanchou em comédias como O Âncora, O Virgem de 40 Anos, Ligeiramente Grávidos, Eu Te Amo, Cara e O Idiota do Meu Irmão.

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    Grande parte do êxito de Homem-Formiga deve-se justamente às várias digitais que se foram acumulando no projeto: de Edgar Wright (roteirista e diretor de Todo Mundo Quase Morto, uma paródia brilhante dos filmes de zumbi) e Joe Cornish (de Ataque ao Prédio, em que a garotada de um conjunto habitacional derrota uma invasão alienígena), o script herdou o implacável senso de absurdo britânico. Com Adam McKay (de O Âncora) e o próprio Rudd, a dupla que apagou o incêndio deflagrado com a saída de Wright, ganhou o ritmo das comédias americanas feitas em coletividade (como todas aquelas de que Rudd participou), na qual a principal peça humorística não é o protagonista, mas sim os coadjuvantes: em Homem-Formiga, é Michael Peña, conhecido como um excelente ator dramático, quem rouba a cena no papel do líder de um trio de idiotas do crime completado por David Dastmalchian e o rapper T.I. Dois novatos, Gabriel Ferrari e Andrew Barrer, trataram de integrar todas essas influências e exigências em um trabalhoso polimento do roteiro. E, em Peyton Reed, de Sim, Senhor e Separados pelo Casamento, o filme tem um diretor com traquejo, mas sem a persistência autoral que colocou Edgar Wright em conflito com o estúdio. Trata-se quase de justiça poética: é dessa forma, afinal, que trabalham as formigas – em grupo, cada uma contribuindo com sua parte, para que o todo resulte maior do que a soma delas.

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    Isabela Boscov
    Publicado originalmente na revista VEJA no dia 22/07/2015
    Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
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    © Abril Comunicações S.A., 2015


    Trailer


    HOMEM-FORMIGA

    (Ant-Man)
    Estados Unidos, 2015
    Direção: Peyton Reed
    Com Paul Rudd, Michael Douglas, Corey Stoll, Evangeline Lilly, Michael Peña, David Dastmalchian, T.I., Judy Greer, Bobby Cannavale
    Distribuição: Disney
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