ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS
Toda vez que estreia uma nova temporada de Game of Thrones, eu me pego surpresa com o tipo muito peculiar de prazer que é a série: na verdade, o que se tem é a promessa de um prazer, o qual há de vir sempre mais tarde (no nono episódio, habitualmente o ponto alto). O grosso de uma temporada típica de GoT consiste de armar o palco para o grande drama que vai ser o clímax daquele ano – como se a plateia estivesse assistindo à montagem do palco, cenário por cenário, à espera do momento da encenação. Quando ela chega, ela costuma ser intensa, brutal – e breve. Durante seis ou sete episódios, David Benioff e D.B. Weiss, os criadores/roteiristas/supervisores, posicionam os atores aqui e ali, provocam com um ou outro confronto, param e pensam, levam a cena para uma direção imprevista no oitavo episódio e então pronto, a culminação – e desce a cortina. Vem um episódio final em que se rearranjam os protagonistas para um próximo drama (ou temporada), e toca esperar mais um ano. Como esta sétima e penúltima temporada terá apenas sete episódios, porém, eu estava curiosa para ver como esse tempo de cena a menos se refletiria no ritmo desta hora de abertura. Curioso: não houve nenhum reflexo perceptível. A sétima temporada começou a passeio – talvez até mais do que as outras.
Todos os enredos do capítulo inicial foram, individualmente, interessantes. Arya extermina o clã Frey e está a caminho de King’s Landing para matar Cersei. Apesar da fragilidade de suas alianças políticas, Cersei está num dos seus delírios de poder; acha que vai recuperar todos os sete reinos com a ajuda da esquadra do pilantra Eron Greyjoy. Reduzido a faxineiro da Cidadela, Sam Tarley ainda assim faz uma descoberta importante (ou duas, talvez). Jon Snow e Bran Stark estão sentindo o bafo frio dos Caminhantes Brancos no seu cangote – mas, inesperadamente, é a Sandor Clegane que é dada uma visão sobre onde e como virá o primeiro ataque deles. E Daenerys desembarca no seu feudo ancestral de Dragonstone já arregaçando as mangas para reaver Westeros.
Eu teria acompanhado qualquer uma dessas tramas de bom grado por uns minutos mais. Mas mal o espectador começa a se envolver em uma, já é arrancado dela e lançado na próxima. Os roteiristas de GoT sem dúvida têm sempre uma pedreira para quebrar: como entrelaçar tantos núcleos narrativos sem deixar que nenhuma deles se perca de vista? Mas o efeito dessa estrutura de pacote de excursão – cinco capitais europeias em três dias! – às vezes é entorpecedor. Em vez de criar vários picos de interesse, aplaina tudo e deixa o relevo indiferente: onde é que eu estou agora? Se é quarta-feira, devemos estar na Bélgica – ou será na Holanda? Ninguém desiste, porém, porque a promessa é clara: de algum canto desse palco intrincado, vai vir um golpe forte. Sobretudo, aguarda-se o momento, presumivelmente na temporada final, em que todos os atores estarão juntos no palco encenando o mesmo drama, e é quase certeza que ele vai ser grandioso.
GoT é um fenômeno: tudo indica que, ao menos no que se pode discernir do futuro, esta é a última série que toda a audiência – enorme – terá se obrigado a ver no dia e horário em que cada novo episódio vai ao ar. Nem The Walking Dead conseguiu se constituir em uma experiência coletiva dessa magnitude. Arrisco dizer que, mais do que o comentário político, a violência, o erotismo e a perfídia, esse é o aspecto verdadeiramente adulto de GoT: a maneira como ela persuadiu o público a aceitar o seu jogo de recompensa suspensa, e transformou o domingo à noite em um exercício conjunto de espera paciente por um clímax sempre adiado.