Vencedora do Oscar pelo papel de Anne, uma rainha incompetente, Olivia Colman falou a VEJA sobre interpretar a eficiente Elizabeth.
Desde o início desta terceira temporada, Elizabeth é constantemente confrontada pelas suas falhas — as verdadeiras e as imaginadas. A impressão que se tem é que ela nunca corresponde, na própria opinião, à pessoa que gostaria de ser. Sem dúvida. E, no entanto, penso que é isso que a torna tão especial como monarca — o fato de que ela não crê estar certa sempre e não se acha ótima, somente tenta fazer seu trabalho da melhor maneira possível. Essa humildade é o que sobressai nela, e é o que é necessário à pessoa que ela é. Sem falar que o oposto disso, a arrogância, seria infinitamente menos atraente.
Mas é algo que vem com muito sofrimento, não? Com certeza. Não é um emprego que qualquer um de nós gostaria de ter. Ela mesma preferiria não tê-lo, aliás. Imagine só — viver em uma gaiola, ainda que dourada, com zero de liberdade. E, mesmo nessas circunstâncias, ela se dedica integralmente e faz um trabalho maravilhoso.
Apesar de ela não ter desejado seu emprego, por assim dizer, nesta temporada vemos como a rainha nega à irmã, a princesa Margaret, a chance de desempenhar um papel maior. Ao que tudo indica, a relação delas foi mesmo muito conturbada, mas é óbvio que Peter Morgan, o criador da série, precisa recorrer a licenças artísticas para dramatizar um ponto crucial: o fato de que uma irmã tem poder e a outra, não — e é inevitável que uma assimetria como essa repercuta profundamente em um relacionamento. Margaret era notoriamente baladeira e dona de uma personalidade extraordinária. E era, ainda, a única pessoa que realmente conhecia Elizabeth. Há grandes deixas para um bom drama aí.
Elizabeth é também um paradoxo: há décadas ela vive sob escrutínio incessante, e qualquer um de nós imagina saber tudo sobre ela — mas o fato é que quase nada se sabe sobre a pessoa real; é uma vida que permanece velada. Como você resolveu essa contradição? Existe certo incômodo em interpretar uma pessoa tão universalmente reconhecível, e que está viva e permanece atuante. Ao mesmo tempo, é isso que eu faço — e não vejo como poderia resistir a fazê-lo tendo como apoio um roteiro tão bom e na companhia de atores tão formidáveis. Estou me divertindo à beça. Eu já era fã de The Crown antes de conseguir o emprego. Agora, então…