Você nasceu dez anos depois de Charles e Diana ficarem noivos. Quanto desse suposto conto de fadas chegou até você? Não importa qual a sua idade, esse momento está no repertório passivo de qualquer inglês ou inglesa. É uma história tão cheia de drama que faz parte do nosso subconsciente.
O relacionamento dos dois foi sempre um furacão de mídia. Como você filtrou todo esse ruído para chegar a uma fundação sólida para Charles? O ruído é tão grande que torna todo o material sobre eles imprestável: seja a cobertura de imprensa, sejam os testemunhos de pessoas próximas, tudo está distorcido por vieses. Então, parti de um princípio simples e, creio, verdadeiro: que tudo em Charles deriva do desejo intenso, e não realizado, pelo carinho materno. Acho que tudo que ele sempre quis é um abraço da mãe.
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Na terceira temporada, esse desamor tornou Charles muito comovente. Agora, porém, ele tem momentos de indiferença terrível para com Diana. Ainda bem que tive a terceira temporada para fazer o espectador compreender o lado de Charles; se só tivesse entrado em cena agora, todo mundo me odiaria pura e simplesmente. Mas casamentos raramente têm um só vilão. Charles ama — sempre amou — Camilla. E Diana era incapaz de dar a ele coisas de que ele necessitava, e vice-versa. Temos aqui uma pessoa cuja existência tem um único propósito: o de se tornar rei. Mas ele está completando 72 anos e esse propósito ainda não se cumpriu. Em qualquer vida, seria um abismo monstruoso com o qual lidar. Foi difícil ser tão cruel com (a atriz) Emma Corrin. Espero que ela tenha me perdoado.
Publicado em VEJA de 18 de novembro de 2020, edição nº 2713