É como postaram os médicos alemães: “Nós estamos no trabalho por vocês, então fiquem em casa por nós”. Não é todo mundo, evidentemente, que tem possibilidade de ficar quietinho de quarentena – mas quem pode, e é esperto (e responsável), faz muito bem em se recolher. Para espantar o tédio, então, três minisséries tão cheias de ganchos que fazem você esquecer de todo o resto:
Não Fale com Estranhos
Onde: na Netflix
Adam (Richard Armitage) é feliz, bem de vida, bem casado com Corinne (Dervla Kirwan) e pai de dois adolescentes muito simpáticos – mas seu mundo vira de cabeça para baixo quando uma moça desconhecida (Hannah John-Kamen) o aborda para dizer que a gravidez seguida de aborto espontâneo de sua mulher, dois anos antes, não passou de uma farsa. Atônito, Adam confronta Corinne, que admite a mentira mas se recusa a dar qualquer explicação sobre ela. “Há mais coisa em jogo aqui do que você supõe”, diz Corinne – para então sumir, apenas deixando no celular uma mensagem em que diz precisar “de um tempo”. Daí para a frente, o caldo só engrossa, envolvendo um número cada vez maior de acontecimentos que parecem isolados (mas não são) e de personagens que parecem não ter relação uns com os outros (mas têm). Pessoalmente, acho muito do pé quebrado as motivações da desconhecida que revela segredos aqui e acolá. Mas, até chegar a elas, esta minissérie inglesa em oito episódios intriga tanto que é difícil parar de vê-la.
Truth Be Told
Onde: na AppleTV
Vinte anos atrás, a carreira jornalística de Poppy (Octavia Spencer) deslanchou graças à série de reportagens em que ela praticamente condenou, antes do júri, o adolescente Warren pelo assassinato a facadas de seu vizinho, enquanto a mulher e as filhas gêmeas da vítima dormiam. Aliás, uma das gêmeas, Lanie (Lizzy Caplan), selou o destino dele no tribunal: ela teria acordado no meio da noite e visto Warren pulando o portão de sua casa. De Josie, a outra gêmea, nunca mais se teve notícias; nem Lanie – que é bem esquisita – sabe onde ela está. O mais estranho de tudo: Poppy topa com o vídeo do primeiro depoimento de Lanie, no qual ela nem menciona Warren. Teria ela ajudado a condenar um inocente? Com suas certezas abaladas, a jornalista, que agora é podcaster, decide voltar ao caso, apesar de Warren (o sempre excelente Aaron Paul) ter virado neonazista na prisão e até o pai dele, que é comissário de polícia, reafirmar que ele é culpado. À medida que a reinvestigação vai encaroçando, ela tumultua o a vida profissional e pessoal de Poppy e, a cada passo, mais cria novas dúvidas do que traz esclarecimentos. Octavia Spencer é irresistível, mas a dúvida é se ela estará na segunda temporada da série (cujo título significa “verdade seja dita”) ou se os produtores vão seguir o formato de antologia.
Mrs. Wilson
Onde: na GloboPlay
Alison Wilson e seus filhos, dois rapazes na casa dos 20 anos, estão abaladíssimos com a morte do adorado patriarca da família, Alexander (Iain Glen, o sir Jorah de Game of Thrones). Mas eis que uma mulher um tanto mais velha que Alison bate à porta dela e, apresentando-se como sra. Wilson, diz ter vindo pegar as coisas do marido. “É aqui que ele estava hospedado, não?”, diz essa segunda sra. Wilson, confusa, quando Alison olha para ela cheia de indignação e responde que não – ela é que a sra. Wilson, e é ali que seu marido morava, não se hospedava. Se esse fosse o único baque que Alison tem a enfrentar: não passa um dia sem que novos dados atordoantes sobre a vida do falecido venham à tona, remontando até antes do dia em que eles se conheceram, durante a II Guerra, quando ambos trabalhavam no setor de Inteligência. Os personagens são reais, e as dúvidas em torno de Alexander estão longe de ser esclarecidas, já que muitos arquivos do período continuam sob sigilo. Ao que tudo indica, porém, Alexander Wilson era muito mais do que um mentiroso; era um mitômano, dado a tecer fábulas sobre si mesmo. Os três episódios são densos, muito bem escritos e foram entregues a um elenco de primeira. O mais sensacional é que Ruth Wilson, a atriz de Luther e The Affair que interpreta Alison, é neta da própria.