A Nasa, a agência espacial americana, projetou que o aumento da temperatura dos oceanos no Atlântico Norte pode elevar o risco de queimadas no sudeste da Amazônia, além de criar o cenário para uma temporada ativa de furacões. A análise foi feita em parceria com cientistas da Universidade da Califórnia.
Variações na temperatura da superfície do oceano alteram os padrões climáticos em diferentes lugares no mundo. No caso do Atlântico, superfícies mais quentes próximas ao equador levam a umidade para regiões mais ao norte, se distanciando do sudeste da Amazônia, e favorecendo o surgimento de furacões.
Como resultado, a região amazônica se torna mais seca e inflamável, propiciando o cenário para que queimadas iniciadas por pessoas, na agricultura e para a limpeza de pastagens, saiam de controle e se espalhem.
Segundo o chefe do Laboratório de Ciências da Biosfera da Nasa, Doug Morton, “a previsão para a temporada de fogo é consistente com o que vimos em 2005 e em 2010, quando temperaturas mais quentes no Atlântico desencadearam uma série de furacões e períodos de seca recorde no sudeste da Amazônia, o que culminou no aumento de queimadas”.
Para o climatologista Carlos Nobre, o cenário pode ser diferente. “As chuvas do início de 2020, a estação chuvosa do sul da Amazônia, não se constituíram em uma seca intensa como foi o início de 2005 ou 2010, anos de secas super intensas”, afirmou. “Até agora, há condições de seca moderada em Rondônia e Acre. Porém, as águas do Atlântico Tropical Norte mais quentes podem significar um período de seca sazonal no sul da Amazônia mais intenso, adicionando ao risco de queimadas”, destacou.
Em resposta às diversas manifestações de empresários e investidores internacionais, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, presidente do Conselho Nacional da Amazônia, decretou uma moratória para proibir as queimadas em todos os estados da Amazônia durante os próximos 120 dias. A mesma medida foi adotada em 2019.
Sobre a moratória, Nobre aponta para o fato de que, justamente pela ação dos militares, parte do que foi derrubado não foi queimado no ano passado. “Há uma vasta imensidão de mata esperando ser queimada. Todos os elementos para a explosão de queimadas estão presentes: floresta derrubada do ano passado e não queimada, desmatamento deste ano esperando para ser queimado e indicações de uma estação seca climaticamente mais severa em função de águas mais quentes no oceano Atlântico Tropical Norte”, afirmou. “A única possibilidade de redução acentuada de queimadas é a ação de fiscalização com um grau de rigor que não se vê na Amazônia há muitos anos, pelo menos desde 2014”, completou.