Em vídeo obtido com exclusividade por este blog, um grupo de jovens do Complexo da Maré – que evidentemente não representa todos os moradores do conjunto de favelas da Zona Norte do Rio de Janeiro – comemora o tiro na cabeça que resultou na morte do jovem militar noticiada aqui em primeira mão no post anterior e depois ratificada no Jornal Nacional. O cabo Michel Augusto Mikami (foto) tinha 21 anos e era de Vinhedo, no interior de São Paulo. Esta é a primeira morte de um militar das Forças Armadas desde o início do processo de pacificação, há seis anos.
No vídeo, o responsável pela filmagem aponta o rastro de sangue na rua, ao longo do meio-fio, e diz:
“Aí como é que ficou [o cabo do Exército]. Ficou como? Fodido, porra. Aí, ó, o miolo da cabeça dele aí, ó. Pau no cu, rapá.”
Outro jovem fora de cena faz o número três com a mão na frente da câmera e diz: “Astronauta, porra, faz o três.”
Astronauta é o apelido de um bandido preso pela Polícia Federal em Jacarepaguá. “Faz o três” é referência ao Terceiro Comando Puro (TCP), que manda em quase todas as favelas da Maré, especialmente na Vila dos Pinheiros onde ocorreu o confronto da tarde desta sexta-feira (28).
“Bala comeu! Bala comeu! Bala comeu! Saiu um fodido”, celebra o primeiro, enquanto caminha com a câmera para um bar cuja parede ficou cravada de tiros. “Aí como é que ficou o bar, ó lá como é que ficou o bar: o tiro de meiota”, aponta ele, em meio a outros jovens moradores que riem olhando as marcas. Meiota é o apelido do fuzil FAL calibre 7.62. “Caralho! Aqui, rapaziada: olha a parede.”
Não dá para saber se todos que aparecem estão comemorando o ataque dos bandidos a Mikami, mas a vibração de alguns é tão evidente quanto imoral – e beira a apologia ao crime.
Assista ao vídeo, se você tiver estômago para ver celebração de banho de sangue. Os ‘miolos’ citados não chegam a aparecer na poça vermelha. Você pode ver também, no segundo vídeo, a chegada da vítima à UPA da Maré, onde não resistiu aos ferimentos e morreu.
O governador Luiz Fernando Pezão prestou “solidariedade à família do cabo, que perdeu a vida na defesa da paz” e disse, como de praxe, que “Nada nos fará recuar”: “Vamos perseguir até o fim a pacificação na Maré e em outras comunidades do Rio”.
No discurso, parece tão lindo quanto o futuro melhor eternamente prometido pela esquerda.
Na prática, o que igualmente se tem visto é um grande rastro de sangue civil, policial e militar.
Veja também aqui no blog: A farsa da ‘pacificação’ no Rio de Janeiro.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil
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