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Felipe Moura Brasil

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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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Próteses de felicidade e neuroses sexuais

Complemento as duas primeiras notas abaixo – que deram o que falar no Facebook aqui e aqui – com outras três (e mais alguns links e vídeos):   1.   Às filhas que pedem ajuda financeira para colocar próteses de silicone no peito, alguns pais dizem: “Quando você crescer, trabalhar e tiver o seu dinheiro, você coloca.” Eu […]

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 2 dez 2016, 15h57 - Publicado em 11 mar 2014, 21h44
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  • Complemento as duas primeiras notas abaixo – que deram o que falar no Facebook aqui e aqui – com outras três (e mais alguns links e vídeos):
     
    1.
     
    Às filhas que pedem ajuda financeira para colocar próteses de silicone no peito, alguns pais dizem: “Quando você crescer, trabalhar e tiver o seu dinheiro, você coloca.” Eu tenho uma sugestão diferente: “Quando você tiver lido as obras completas de Balzac, Stendhal, Flaubert, Shakespeare, Montaigne e outros tantos, e tiver educado as suas emoções (ou ao menos aprendido a reconhecê-las), você faça o que quiser, se ainda quiser, com o seu corpitcho, ok? Os livros, eu pago.”
     
    2.
     
    No Brasil, sugerir que as pessoas se eduquem antes de tomar decisões importantes ou definitivas para a vida inteira, obviamente em nome da qualidade e da responsabilidade sobre elas, é sintoma de arrogância, vaidade, pedantismo, afetação de superioridade etc. A única sugestão bem-vinda é a de avaliar se a escolha as fará “felizes” ou não. Se faz feliz, é bom pra você. Se não faz, é ruim. Que as pessoas precisem se educar (ou se tratar) para saber que diabos as faz feliz, e que cargas d’água afinal é essa tal felicidade, é algo que obviamente não passa pela cabeça de ninguém. Estão todos muito “felizes” com qualquer satisfação imediata que consigam. Daí que precisem sempre de novas e mais novas próteses de felicidade.
     
    3.
     
    A propósito disto, convém lembrar Viktor Frankl, em sua entrevista de 1985 sobre “A descoberta de um sentido no sofrimento”:
     
    Enquanto fazemos da felicidade uma meta, não podemos alcançá-la. Quanto mais a almejamos, mais ela se distancia. Esse fato é mais evidente em casos de neurose sexual, pois são justamente aqueles homens que se esforçam por demonstrar a sua potência que vivem atormentados pela impotência. Quanto mais uma mulher tenta demonstrar, pelo menos para si mesma, o quanto é capaz de sentir um orgasmo, mais propensa ela está à frigidez. Mas quando você não pensa em prazer ou satisfação, mas simplesmente se entrega, seja na vida sexual, seja no trabalho, seja no amor, quando não mais se preocupa em ser feliz ou bem-sucedido, então a felicidade se instala por si mesma.
     
    4.
     
    A propósito dessa neurose sexual apontada por Frankl – e da reação destemperada de muitos brasileiros quando recebem uma sugestão como a minha -, convém lembrar também Karen Hornay em “A personalidade neurótica do nosso tempo“, de 1937, expondo as suas raízes em uma das atitudes presentes nos esforços neuróticos em busca de poder:
     
    Outra atitude no anelo de poder é a de nunca ceder. Concordar com uma opinião ou aceitar um conselho, ainda quando julgado certos, é considerado fraqueza, e a mera ideia de incorrer nela provoca revolta. As pessoas para quem esta atitude é importante, tendem a ser do contra e, só de medo de ceder, compulsivamente, adotam sempre uma opinião antagônica. A manifestação mais generalizada desta atitude é a insistência secreta do neurótico de que o mundo devia adaptar-se a ele em vez dele adaptar-se ao mundo. Uma das dificuldades básicas da terapêutica psicanalítica provém dessa causa. A razão decisiva da análise do paciente não é conseguir conhecimento ou discernimento, mas sim usar esse discernimento de modo a modificar suas atitudes. A despeito de reconhecer que uma modificação viria em seu próprio benefício, o neurótico deste tipo detesta a possibilidade de modificar-se porque para ele isso significaria uma transigência definitiva. Este tipo de incapacidade também tem consequências nas relações amorosas. O amor, qualquer que seja o seu conteúdo, sempre implica em entregar-se, em ceder aos sentimentos da pessoa amada assim como aos próprios. Quanto mais a pessoa, homem ou mulher, for incapaz de uma tal capitulação, tanto mais insatisfatórias serão as suas relações amorosas. Esse mesmo fator pode ser aplicável, igualmente, à frigidez, já que o fato de chegar ao orgasmo pressupõe, exatamente, essa capacidade de abandonar-se completamente.
     
    5.
     
    Em suma: não há prótese de felicidade (ou “autoestima”) que dê jeito em quem não sabe e nem quer saber como, a que e a quem se entregar de verdade.
     
    Felipe Moura Brasilhttps://www.veja.com/felipemourabrasil
     
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    Leia também:
    – Da neurose à censura
    – A miséria espalhada no breu
    – A emoção erótica do brasileiro (e 20 motivos para evoluir)
     
    Assista:
     
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