É a velha história de amor: um rapaz conhece uma entidade alienígena viscosa, é possuído e se torna um anti-herói superpoderoso. Para o olhar desatento, a história peculiar da trilogia Venom é mais um exemplar da imaginação fértil dos quadrinhos Marvel e da execução desengonçada do estúdio Sony, que trouxe ao mundo também os desastres de crítica Morbius (2023) e Madame Teia (2024). Para os mais esforçados, porém, o enlace entre o protagonista Eddie Brock (Tom Hardy) e o parasita titular da saga pode ser algo a mais: um adorável romance queer que chega a seu fim com a estreia da semana, Venom: A Última Rodada.
Aos desavisados, a palavra da língua inglesa “queer” se originou da ideia de estranheza, se tornou injúria homofóbica e, depois, foi reivindicada por membros da sigla LGBT+ como denominação celebrativa de seu lugar ao mundo. É aplicada sobre histórias de amor entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo, mas também sobre representações do amor e de vivências alheias aos preceitos do que é dito “normal” que, intencional ou acidentalmente, refletem a realidade da minoria. Sendo assim, não tardou para que espectadores do filme notassem algo de identificável na dinâmica interna do par.
É romance ou amizade?
Jornalista investigativo, Eddie é contaminado pela criatura Venom ao visitar um laboratório suspeito e passa a ter que dividir o próprio corpo com ele. Involuntária, a relação é primeiro resistida pelo humano, bem ao estilo de toda comédia romântica que corre o percurso de rivais a amantes. Ao longo do filme, o jovem e a criatura têm que se entender e, por fim, concluem que precisam um do outro para viver.
Em sua sequência, Tempo de Carnificina, a franquia ganhou direção de Andy Serkis, que declarou ao portal Uproxx que pretendia narrar “um caso de amor” com o filme. Não só na relação entre os dois, o simbolismo LGBT+ dá um passo à frente no momento da trama em que Venom se descola do corpo do protagonista e foge para uma rave de Halloween. Magoado com o parceiro, o alienígena sobe ao palco do evento, pega o microfone e se dirige à plateia: “O Eddie estava errado. Ele me deixou escondido por vergonha de mim, mas olha onde estou agora! Vocês me amam e eu sou livre. Chega de crueldade com os alienígenas, todos devem poder viver juntos nesta bola de pedra, livres para ser quem quisermos”. Segundo o diretor, a cena de “saída do armário” foi inspirada em um “festival LGBT” e a mensagem pretendida era advogar pelo “outro”, ou seja, por aqueles à margem da sociedade.
O astro Tom Hardy, por sua vez, não contraria a leitura homoafetiva do enredo. Questionado sobre ela durante a divulgação do segundo filme, o ator inglês disse à MTV que o processo da franquia flui na direção de “qualquer aspecto que o público tenha achado proveitoso” sobre as obras. “No fim, queremos entreter as pessoas e proporcionar alguma alegria, algo a celebrar. É um trabalho com propósito e, também, divertido”.
O capítulo final
Em A Última Rodada, Eddie e Venom estão reconciliados, mas devem fugir quando os criadores da raça alienígena central invadem a Terra. Tudo indica que, para garantir a permanência da humanidade e dos simbiontes, o “casal” tenha que se separar, sacrifício que nenhuma parte está disposta a cometer.
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