Um dos cineastas mais consagrados de Hollywood, Francis Ford Coppola se cansou da triagem típica da indústria e de convencer investidores de suas ideias. Por isso, decidiu dirigir Megalópolis, seu primeiro longa em mais de uma década, sob as próprias regras, com dinheiro do próprio bolso. O resultado é um épico ambicioso filmado com 120 milhões de dólares — e polêmico por diversos motivos, entre acusações de assédio nos bastidores e críticas à escala megalomaníaca da trama. O diretor, porém, não parece se afetar tanto pela controvérsia e, em entrevista à Rolling Stone americana, ofereceu mais combustível para debates. Questionado sobre divergências políticas com membros do elenco, o cineasta explicou que a prioridade era evitar que o filme fosse visto “como uma produção hollywoodiana woke que simplesmente quer dar aula aos espectadores”.
Segundo Coppola, “o elenco conta com pessoas que já foram canceladas em algum momento”, “arquiconservadores” e “progressistas extremos”. Dentre os ditos “cancelados”, se destaca o ator Jon Voight, de 85 anos, que é um dos mais ferrenhos apoiadores do ex-presidente Donald Trump. Pai de Angelina Jolie, ele brigou publicamente com a filha por conta das desavenças políticas e rotineiramente publica vídeos no Instagram em que opina sobre a eleição americana, o conflito entre Israel e Palestina e o que considera como ameaças à integridade americana, sempre com uma bandeira do país ao fundo.
Além dele, outra figura polêmica é Shia LaBeouf, de 38 anos, que foi processado em 2020 por supostas agressões físicas e emocionais contra a ex-namorada FKA Twigs. Na ocasião, o ator primeiro pareceu corroborar as queixas em declaração enviada à revista Time. Nela, escreveu que não tinha desculpas para seu “alcoolismo e agressividade” e que havia sido abusivo “consigo mesmo” e com aqueles ao seu redor por anos: “Tenho vergonha dessa história e sinto muito por aqueles que feri”, concluiu.
O posicionamento de Coppola
Crítico a Trump, o diretor de cinema já traçou paralelos entre Megalópolis e o clima político dos Estados Unidos, dizendo em uma conferência do Festival de Cannes que “o que acontece com a América é exatamente igual ao jeito como Roma perdeu sua república há milhares de anos”. Na sua visão, o país está à beira do fim da democracia e deve colocar sua esperança não nos representantes, mas em artistas.
Mesmo assim, ele disse à Rolling Stone achar “interessante” ter unido atores tão diferentes entre si sob um único set. O elenco ainda conta com Adam Driver, Aubrey Plaza, Giancarlo Esposito, Jason Schwartzman, Laurence Fishburne e Nathalie Emmanuel — que ou não debatem política publicamente, ou são democratas como Coppola.
A trama de Megalópolis
Megalópolis se passa no futuro, dentro da cidade fictícia de Nova Roma, onde o arquiteto idealista Cesar Catilina (Driver) planeja um futuro utópico a contragosto do prefeito Franklyn Cicero (Esposito). Quando o rebelde se apaixona pela filha do político, o conflito ganha contornos inspirados em tragédias da Roma antiga, com direito a bacanais e sequências visuais ambiciosas. A recepção em Cannes foi mista, composta tanto por admiradores da audácia de Coppola quanto por críticos que apontam uma perda do toque mágico por trás da trilogia O Poderoso Chefão e Apocalypse Now. O longa chega aos cinemas brasileiros em 31 de outubro.
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