São muitas as feridas históricas recentes da Coreia do Sul. Há pouco mais de 100 anos, o país ainda era uma península unificada e foi violentamente dominado pelos japoneses. Após uma escabrosa guerra civil nos anos 1950, acabou dividido entre Norte e Sul — herança que ainda atormenta. De lá para cá, os sul-coreanos passaram por décadas de governos ditatoriais, sendo os anos 1980 o período mais dramático: sob a Presidência do general Chun Doo-hwan (1931-2021), o regime militar chegou ao ápice da opressão, com embates violentos da polícia contra estudantes lutando pela democracia. É nesse cenário que o ator Lee Jung-jae, que ganhou fama mundial com a série da Netflix Round 6, ambienta o thriller de ação Operação Hunt (Heon-teu; Coreia do Sul/ 2022), que estreia nos cinemas em 2 de fevereiro.
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Ex-modelo e agora ator requisitado por Hollywood, Lee, de 50 anos, demonstra o domínio de novas habilidades: ele assina o roteiro e a direção do longa, enquanto assume o protagonismo. Na pele de Park Pyong-ho, chefe da Unidade Estrangeira da KCIA, o serviço de inteligência da Coreia do Sul, ele se apresenta como um homem durão e frio, mas que pisa em ovos com o colega Kim Jung-do (Jung Woo-sung), chefe da Unidade Doméstica. Quando um plano para assassinar o presidente vem à tona, surge também a informação de que existe um infiltrado norte-coreano no alto escalão da KCIA — e os dois agentes logo se tornam suspeitos.
Misturando fatos e ficção, Lee encontrou um caminho para apresentar uma história indigesta sem repelir o espectador. Retratar uma ditadura militar demanda falar de tortura, de luto, medo e paranoia. Esses pontos estão no filme, mas ladeados por sequências de ação exuberantes e um mistério hipnótico. O jogo de cintura é exemplo de como a vasta produção sul-coreana se tornou universal nos últimos anos. Do primoroso Parasita à série Round 6, que ganhará uma segunda temporada em 2024, a produção local encontrou o difícil equilíbrio entre uma narrativa relevante mas que sabe entreter ao mesmo tempo.
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Na história real que inspirou o filme, um policial de fato assassinou um presidente, mas nos anos 1970: o ditador Park Chung-hee (1917-1979) foi morto num jantar pelo diretor da KCIA. Em seguida, Chun Doo-hwan deu um golpe no sucessor de Park e tomou o poder. Chun também foi alvo de atentados, mas nenhum bem-sucedido — ele morreu aos 90 anos, em Seul. Seus crimes contra os direitos humanos foram perdoados, já que, durante sua “gestão”, a economia decolou. Como em Round 6, o jogo da vida real é perigoso — e nunca para.
Publicado em VEJA de 1º de fevereiro de 2023, edição nº 2826
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