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O fator feminino que faz toda a diferença no terror ‘MaXXXine’

O diretor Ti West converte sua bem-sucedida personagem em anti-heroína antológica — um papel que consagra Mia Goth, estrela com legítimo DNA nacional

Por Thiago Gelli 13 jul 2024, 08h00
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  • “Não vou aceitar uma vida que não mereço”, repete a estrela pornô Maxine Minx (Mia Goth) a si mesma como mantra. O ensinamento — vindo do pai, um pastor evangélico do Texas — lhe garante o equilíbrio entre a suada rotina de trabalho e a ambição de ser estrela em filmes que lhe permitam manter as roupas. Mas também é útil na luta pela sobrevivência quando uma idosa maníaca tenta executar a jovem e seus amigos na fazenda onde gravariam mais uma produção erótica. É sua determinação que a ajuda na tarefa de matar a algoz ao fim de X: A Marca da Morte (2022), sem gritar ou chorar. Dentro de um veículo ensanguentado, a atriz zarpa para Hollywood, onde quer chegar ao topo com a mesma bravura. Já em cartaz no país, MaXXXine — terceiro filme da personagem — revela seus próximos passos na cidade dos sonhos, sem que a indústria amoleça seu caráter indócil.

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    Em Hollywood, ela enfim consegue seu primeiro papel num filme de estúdio. Ao ser escalada para um terror B, contudo, tem a oportunidade ameaçada por um assassino misterioso que ataca pessoas a seu redor e ameaça expor seu passado. Se em X a personagem encarnava a tradicional sobrevivente das tramas de terror que se convenciona chamar de “final girl”, ela agora se converte numa versão feminina dos anti-heróis que fizeram fama no cinema da década de 1980, quando dramas criminais como Scarface eram protagonizados por homens complexos, violentos e amorais em busca de justiça. Cigarros sem fim, locadoras de vídeos para adultos, conspiracionistas de certo pânico satânico e o uso de cocaína sem cerimônia compõem esse olhar nostálgico, mas nada romantizado, do diretor Ti West, que resulta em uma das protagonistas mais transgressivas do século XXI.

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    Ao longo da trilogia, afinal, a marca de West consistiu em expor as entranhas de diferentes momentos do cinema. No primeiro filme, ironizou o moralismo com que se criticavam as produções de horror dos anos 1970; então, em Pearl — sobre a juventude da senhora assassina —, sobrepôs violência e crueldade ao visual colorido de musicais dos anos 1940. Agora, retrata como a explosão da indústria de entretenimento na década de 1980 ensejou uma obsessão global pela fama — com os resultados que estão aí. A variedade de fases só ressalta o talento de Mia Goth, a atriz de sangue brasileiro que se consagrou — merecidamente — com a franquia. Com sua heroína assassina, ela arrebata um público cansado de mocinhas indefesas. Como prova MaXXXine, ai de quem entrar no caminho dessa loira.

    Publicado em VEJA de 12 de julho de 2024, edição nº 2901

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