O cineasta Woody Allen foi uma das figuras no epicentro das discussões acerca da conduta sexual em Hollywood após o estouro do movimento #MeToo em 2017, quando atrizes assediadas se ergueram para denunciar abusadores como Harvey Weinstein e outros. Na busca por Justiça e reforma da indústria, muitas histórias foram revividas, inclusive a dele: quando casado com Mia Farrow, o diretor começou um caso com a enteada Soon-Yi Previn, de 20 anos e, após o divórcio, foi acusado pela filha Dylan de molestamento quando ela tinha 7 anos — as investigações o isentaram de qualquer culpa. Com o advento do #MeToo, ele teve seu contrato com o estúdio Amazon interrompido e se afastou do mercado americano, passando a filmar na Europa, onde dirigiu seu mais novo longa, Coup de Chance, que estreia esta semana no Festival de Veneza. Lá, em entrevista à Variety, Allen abordou o movimento, declarando apoio mas rechaçando a “cultura de cancelamento.”
“Creio que qualquer movimento fortuito, responsável por algo positivo, digamos, para as mulheres, é algo bom”, afirmou o diretor, completando: “Mas quando se torna bobo, é bobo. Li sobre instâncias benéficas, mas quando leio histórias tolas num jornal, é uma bobagem.” Para ele, atitudes “extremas” tentam tornar situações em problemas que “a maioria das pessoas não enxergariam como casos ofensivos”, desembocando em algo desconectado do feminismo ou de “injustiças contra mulheres.”
Ainda tocando no assunto, Allen reforçou ser digno do título de “garoto propaganda do #MeToo”: “Fiz 50 filmes e sempre criei bons papéis para mulheres, sempre tive mulheres na equipe, sempre as paguei o mesmo que pagava os homens e nunca tive nenhuma reclamação. Nenhuma disse ‘ele é mal’ ou ‘assediador’.”
Em seu novo filme, Allen trabalha com um elenco francês e retrata os conflitos conjugais de um casal, Fanny (Lou de Laâge) e Jean (Melvil Poupaud), cuja vida perfeita é abalada pelo surgimento de Alain (Niels Schneider), um antigo amigo de faculdade. O filme terá sua primeira exibição na noite de segunda-feira, 4.