O irlandês Paul Mescal descreve a própria adolescência como “anos de pesadelo”. As ansiedades da puberdade o perturbavam na época da escola, e um detalhe em particular o incomodava: ele não gostava das mãos por serem grandes demais, desproporcionais ao corpo. As inseguranças só desapareceram quando pisou no palco em uma montagem de O Fantasma da Ópera, aos 16 anos. Foi naquele momento que se sentiu livre e confortável com a própria masculinidade — algo que influenciaria suas escolhas na carreira de ator. De pele pálida, cabelos escuros e olhos azuis de menino desamparado, Paul Mescal alcançou hoje um posto curioso: é o galã sensível que faz sucesso em produções que buscam desvendar a complexidade dos sentimentos humanos.
Em seu trabalho mais recente, o longa Aftersun, disponível na Mubi e em cartaz nos cinemas, o ator de 26 anos dá vazão aos tormentos de Calum, um jovem pai de 30 anos que decide passar as férias na Turquia ao lado da filha pré-adolescente. Como quem monta um quebra-cabeças, entre vídeos caseiros e memórias nebulosas, a menina já adulta tenta entender as agruras psicológicas pelas quais o pai passava na época e que o levaram à depressão. Calum reflete um tipo de papel muito específico pelo qual Paul Mescal procura desde que explodiu com a série Normal People, em 2020: os personagens emocionalmente profundos. Além das cenas quentes que protagonizou ao lado de Daisy Edgar-Jones, seu par romântico na produção, o ator também explorou assuntos delicados, como saúde mental, na pele do machão de alma delicada Connell. O esforço foi recompensado com uma indicação ao Emmy e a vitória no Bafta, o “Oscar britânico” — além de render perseguições de paparazzi que o fizeram abandonar as redes sociais. Discreto na vida pessoal, o artista está noivo da cantora americana Phoebe Bridges, mas a relação dos dois é cercada de rumores de crise — especialmente após ele ter sido visto com a pantera Angelina Jolie, 21 anos mais velha.
O jeitão hipster — palavra que designa certo estrato da juventude que cultua um padrão de vida alternativo — vai além da aparência. Entusiasta do cinema independente, Mescal prefere evitar as superproduções em prol de filmes menores que oferecem bons personagens e oportunidades para trabalhar com cineastas que ele admira. Sua mãe, que trabalha na polícia da Irlanda, e seu pai, professor primário, apoiaram desde sempre a decisão do filho de desistir da carreira no futebol gaélico após uma lesão para se dedicar à atuação.
Na lista de projetos futuros, o drama gay The History of Sound é o que mais chama a atenção. O filme será um romance proibido entre dois soldados durante a I Guerra, em que Mescal contracenará com Josh O’Connor, outro galã esquisitinho (mais conhecido por viver o príncipe Charles de The Crown). Cotado ao Oscar graças a Aftersun, ele agora é cobiçado por Hollywood — e pelas fãs que aumentam a cada dia. Haja emoção.
Publicado em VEJA de 18 de janeiro de 2023, edição nº 2824
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