Quando o primeiro filme da franquia de terror Sobrenatural espalhou calafrios pelo mundo, em 2010, o longa rapidamente ascendeu como um dos mais assustadores da história e alavancou a carreira do cineasta James Wan e do protagonista Patrick Wilson — que logo repetiriam a parceria com Invocação do Mal três anos depois. O êxito da fórmula, porém, não seria de longo prazo. Após a primeira sequência, Wan abandonou a direção do universo, e assim deixou seus sucessores à deriva e, inevitavelmente, à sombra de seu trabalho. Treze anos depois, o astro Patrick Wilson, então, decidiu encarar o desafio de revitalizar a história da família Lambert, seguindo os passos que Anthony Perkins trilhou ao dirigir Psicose 3. Diferentemente do pupilo de Hitchcock que se revelou um apto cineasta, entretanto, Wilson realiza um trabalho tão metódico quanto preencher um livro de colorir.
Sobrenatural: A Porta Vermelha retoma a história de Josh (Wilson) e Dalton (Ty Simpkins), pai e filho capazes de viajar para o Além e, lá, evocar espíritos bons ou ruins. Anos após seu último encontro com o oculto, ambos estão sob efeito de hipnose e não se recordam nem do passado conturbado, nem de suas habilidades esotéricas. Quando Dalton parte para a faculdade de artes visuais, seu subconsciente passa a borbulhar com lapsos de memória de sua infância assombrada e, assim, a porta para o mundo insidioso que tanto o feriu é reaberta — e dá passagem à monstruosidade de rosto vermelho que é marca da franquia.
O retorno às raízes, porém, não traz nada à série de filmes além de vinhetas repetitivas que antecipam sustos frívolos ancorados em atuações apáticas. O ex-ator mirim Ty Simpkins, por exemplo, substitui a inocência infantil de Dalton por estereótipos unidimensionais de rebeldia, mesmo simplismo presente na melancolia de Josh, cujas expressões chorosas parecem contraditórias ao roteiro prático e cômico escrito por Scott Teems, roteirista que equilibrou melhor o frenesi e o melodrama em Halloween Kills: O Terror Continua. Junto à dramaturgia jovem e o cenário universitário, o longa se assemelha a um episódio descartado de Buffy, A Caça-Vampiros, ou até mesmo a uma esquete de Lendas Urbanas, antigo quadro do Domingo Legal apresentado por Gugu — A Porta Vermelha se beneficiaria, inclusive, caso aderisse de vez à ironia destas produções.
É, aliás, na danação do plano espiritual que o filme encontra seu melhor refúgio: sob luzes azuis e vermelhas, os personagens perambulam por corredores góticos repletos de velas, descobrem um salão de festas tomado por manequins e até reencontram o extravagante vilão de Sobrenatural 2, um serial killer vestido de senhora indefesa. Infelizmente, é tudo rápido demais, e nada assertivo o suficiente para espantar a terrível inocuidade do resto do longa, que implora pela liberdade de ser um filme B.
Uma das maiores apostas da produtora de terror Blumhouse, a franquia principal se encerra aqui, mas ainda tem fôlego para spin-offs, e o primeiro já foi anunciado: Thread: An Insidious Tale ainda não tem data de estreia ou título nacional, mas deve ser protagonizado por Mandy Moore e Kumail Nanjiani. Talvez, desta vez, o horror primal volte ao Além.