Desde a infância, Craig (Jaeden Martell) passou anos lendo bons livros para o senhor Harrigan (Donald Sutherland). O garoto nunca entendeu o motivo de ter sido escolhido, apenas aceitou o trabalho oferecido por um idoso que alegava não ter os mesmos olhos de antigamente em troca de uma quantia simbólica de dinheiro. Já em idade avançada, o homem acaba morrendo de causas naturais — e, além de deixar Craig abalado, continua a se comunicar com o menino através de um celular que lhe foi dado de presente e colocado em seu caixão. Não se assuste: a premissa aparentemente macabra de O Telefone do Sr. Harrigan, lançado recentemente pela Netflix, passa longe de um filme de terror horripilante. Disfarçada, a produção acaba entregando um drama insosso ao abordar assuntos como bullying e a passagem da adolescência para a vida adulta.
Apesar de excêntrico, o bilionário John Harrigan cria um belo laço de amizade com Craig. Além dos conselhos sobre a vida, ele se torna uma figura importante para o jovem que perdeu a mãe quando criança e tem uma relação distante com o pai. Em meio a preâmbulos que soam às vezes cansativos, o longa se preocupa demais em preparar o terreno para a chegada do elemento sobrenatural — e, quando ele chega, é apenas frustrante. Após a morte do Sr. Harrigan, o protagonista começa a ligar para defunto e, surpreendentemente, obtém respostas – seguidas de (poucas) mortes das pessoas com as quais ele tem algum tipo de problema.
Explorando questionamentos existencialistas acerca do papel do celular na vida das pessoas e até mesmo sentimentos como fazer justiça com as próprias mãos, o filme se arrasta por quase duas horas em uma história que, quando finalmente engata, chega ao fim. Os livros de Stephen King são conhecidos pelas longas ambientações e preparações de personagens, mas O Telefone do Sr. Harrigan abusa demais desse recurso. O resultado é um drama enfadonho que poderia ter sido evitado se Craig decidisse não fazer ligações para o Além.