O épico filme de ficção científica Megalopolis só chega aos cinemas brasileiros em 31 de outubro, mas já é rodeado de múltiplas polêmicas. Primeiro longa de Francis Ford Coppola, de 85 anos, em mais de uma década, o filme foi financiado pelo próprio cineasta e feito fora do sistema de estúdios hollywoodianos, sem passar pelo crivo de executivos ou por algumas das formalidades da indústria. Por isso, tem sido alvo de polêmicas quanto aos seus bastidores, que fontes anônimas apontaram como bagunçados e antiéticos. Agora, em entrevista à revista Rolling Stone americana, o cineasta se defende contra acusações de que teria beijado atrizes sem consentimento.
Denúncia de assédio
A queixa foi primeiro divulgada em maio por meio de apuração do The Guardian. Segundo Coppola, as fontes consultadas pelo veículo inglês seriam “as mesmas que declararam ao Hollywood Reporter que tivemos múltiplas demissões e um êxodo geral para fora da produção”. Na sua visão, “a verdade é que estão procurando por alguma sujeira”. Quanto às mulheres que beijou na bochecha, ele alega que eram todas conhecidas suas. “Olhe a data de publicação daquele artigo, é logo antes de nossa estreia em Cannes. Estão tentando prejudicar o filme”, concluiu.
Desde a reportagem original, a revista Variety obteve acesso a dois vídeos em que o cineasta beija figurantes na bochecha durante as filmagens de uma cena em uma boate. Na mesma semana, uma das atrizes dos vídeos, Rayna Menz, declarou ao portal Deadline que o diretor jamais havia constrangido qualquer pessoa no set: “A existência do vídeo é ridícula e antiprofissional porque estávamos em um set fechado. A notícia me enoja porque ele só falava de como sua esposa era maravilhosa, e ela estava lá na maioria dos dias de filmagem”. Logo depois do pronunciamento de Rayna, a colega Lauren Pagone, porém, corroborou a acusação inicial e declarou ter se sentido “chocada” com o comportamento do diretor, que a teria pego de surpresa e a abordado “algumas vezes”.
Suposta perseguição
Ainda na entrevista à Rolling Stone, o diretor explicou que as repetidas polêmicas seriam um sintoma do status quo de Hollywood: “A tendência na indústria é fazer profissionais acreditarem que serão mais bem-sucedidos se seguirem as regras, mas eu não as sigo. Aí, querem me fazer de exemplo com um fracasso”, disse. De acordo com ele, o equilíbrio em Hollywood mudou quando o filme O Portal do Paraíso (1980) foi fracasso de bilheteria e levou o estúdio United Artists à falência. Desde então, os financiadores da indústria teriam passado a priorizar a garantia de lucro sobre qualquer outro princípio.
Na mesma matéria, o diretor atraiu mais uma controvérsia ao dizer que não queria que Megalópolis fosse considerado “mais uma produção woke feita para dar uma lição aos espectadores”. O objetivo, pelo contrário, seria unir um elenco eclético, com “pessoas que já foram canceladas”, “arquiconservadores” como Jon Voight e “pessoas extremamente progressistas”, feito o próprio cineasta e atores como Adam Driver e Aubrey Plaza. Na rede X, antigo Twitter, a fala foi condensada pela publicação Variety, que retirou a explicação do diretor e priorizou as palavras “woke” e “pessoas canceladas”. Desde então, Coppola tem sido acusado novamente de comportamento reacionário.
A trama de Megalópolis
Megalópolis se passa no futuro, dentro da cidade fictícia de Nova Roma, onde o arquiteto idealista Cesar Catilina (Adam Driver) planeja um futuro utópico a contragosto do prefeito Franklyn Cicero (Giancarlo Esposito). Quando o rebelde se apaixona pela filha do político, o conflito ganha contornos inspirados em tragédias da Roma antiga, com direito a bacanais e sequências visuais ambiciosas. O orçamento foi de 120 milhões de dólares e a recepção em Cannes foi mista, composta tanto por admiradores da audácia de Coppola quanto por críticos que apontam uma perda do toque mágico por trás da trilogia O Poderoso Chefão e Apocalypse Now.
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