Steven Spielberg ganhou popularidade (e um caminhão de prêmios e boas bilheterias) por sua capacidade de transmitir de maneira simples e emotiva qualquer tema – de invasão alienígena aos horrores da escravidão. Na outra ponta oposta, o cineasta David Lynch se tornou queridinho dos espectadores que gostam de tramas complexas, filosóficas e de soluções difíceis – como atesta a série criada por ele, Twin Peaks. Logo, foi no mínimo curioso ver ambos trabalhando juntos em Os Fabelmans, mais recente filme de Spielberg, no qual ele observa a própria infância e adolescência.
Lynch faz uma ponta no final do filme, interpretando ninguém menos que John Ford (1894-1973), nome por trás de grandes clássicos do cinema, caso de As Vinhas da Ira (1940) e o faroeste Rastros de Ódio (1956), para citar só dois. Na trama de Os Fabelmans, o jovem Sam (Gabriel LaBelle) – que representa Spielberg na juventude – consegue seu primeiro trabalho na produção de um canal de TV e é surpreendido com a chance de conhecer seu ídolo. O encontro com Ford dura menos de 5 minutos, no qual o cineasta lhe dá um curioso conselho sobre enquadramento. Segundo Spielberg, o encontro de fato ocorreu e do modo como foi retratado.
O diretor conta que o marido de seu co-roteirista foi quem sugeriu o nome de Lynch para interpretar Ford. Porém, após o convite de Spielberg, o diretor declinou. “Ele [Lynch] disse que não era um ator e que tinha outros projetos. Disse também que John Ford era incrível. E se ele não estivesse à altura de interpretá-lo? Ele estava inseguro”, disse Spielberg em um evento de lançamento do filme. Spielberg tentou convidá-lo uma segunda vez, e Lynch novamente negou. “Então tive que ir atrás de uma intermediária, a melhor amiga dele, a atriz Laura Dern”, contou Spielberg. “Você tem que convencer o David a fazer isso em duas semanas”, implorou o diretor, já com data marcada.
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Lynch, então, aceitou participar do filme. Mas com uma condição: ele queria o figurino duas semanas antes da gravação. “Eu perguntei: ‘Por que? Você vai usá-lo’. E ele disse: “Sim, todos os dias’. O chapéu, o tapa-olho, tudo. Quando ele chegou no set, a roupa estava até gasta.” O resultado valeu a pena. Os Fabelmans está em cartaz nos cinemas.