Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês

Em Cartaz

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Do cinema ao streaming, um blog com estreias, notícias e dicas de filmes que valem o ingresso – e alertas sobre os que não valem nem uma pipoca
Continua após publicidade

‘Blonde’: Ana de Armas dá vida a Marilyn Monroe em filme feminista

Nesse conto de fadas infeliz, a culpa pelas agruras da atriz e por sua morte precoce, aos 36 anos, é compartilhada com o sistema machista da indústria

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h04 - Publicado em 23 set 2022, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • MUSA TRISTE - A cubana Ana de Armas como Marilyn: as dores da beleza -
    BLONDE - A cubana Ana de Armas como Marilyn: as dores da beleza - (./Netflix)

    Sob a luz desorientadora de um centro cirúrgico, Marilyn Monroe está com as pernas em posição de exame ginecológico, diante de um médico digno de conto de terror gótico. Ele e os enfermeiros olham para as partes íntimas da atriz, antes de realizar um aborto. Estrela em ascensão no cinema, prestes a atuar em um filme que não condiz com a gravidez, ela se arrepende de ter aceitado o procedimento sugerido pelo empresário. Marilyn tenta fugir, mas é capturada nos corredores labirínticos do hospital. O mesmo cenário volta a assombrá-la quando, em outra ocasião, é arrancada da própria casa e já chega nocauteada por drogas fortes à sala de cirurgia para interromper, contra sua vontade, outra gestação. Ambas as cenas de Blonde (Estados Unidos/2022), filme que chega no dia 28 à Netflix com a cubana Ana de Armas no papel da diva, são fictícias, baseadas principalmente em rumores — sabe-se que Marilyn sofreu três abortos espontâneos. A função das cenas do filme do neozelandês Andrew Dominik não é retratar fatos, mas uma ideia: símbolo sexual incontornável dos anos 1950, Marilyn Monroe, nome artístico de Norma Jean (1926-1962), teve ao longo de sua curta vida pouquíssimo controle sobre o próprio corpo — patrimônio que a tirou da pobreza e lhe deu fama, mas foi, por fim, sua ruína.

    Blonde – Vol. 1

    Baseado no livro de mesmo nome de Joyce Carol Oates publicado em 1999, Blonde descola Marilyn de adjetivos comumente atrelados a ela, como problemática, deprimida e viciada. Nesse conto de fadas infeliz, a culpa pelas agruras da atriz e por sua morte precoce, aos 36 anos, de overdose acidental, é compartilhada com o sistema machista da indústria que a colocou num pedestal — para depois assistir à sua queda em câmera lenta. Beirando três horas de duração, a cinebiografia opta pela alegoria ao fazer uma análise emocional do furacão Marilyn, persona sensual e oposta à doçura introvertida de Norma Jean. O recorte não preza pela verdade, muito menos pela cronologia. Mesmo assim, reflete com verossimilhança aflitiva os altos e baixos da biografada.

    Blonde – Vol. 2

    Continua após a publicidade

    Essa forma de olhar simbólico se revela uma opção pertinente no retrato de personalidades trágicas incansavelmente exploradas pelo cinema. A princesa Diana é uma delas. Sua dramática passagem pela monarquia britânica foi narrada como um thriller angustiante em Spencer, com Kristen Stewart na pele da ex-esposa do príncipe (agora rei) Charles. Ambientado no Natal de 1991, o roteiro expõe sensações universais, como o horror de ser incompreendido e ignorado, e a solidão daqueles que não se encaixam. No musical Elvis, com Austin Butler no papel-título, o uso de licenças factuais também ajuda a compor um retrato original do ídolo. A produção do cineasta Baz Luhrmann investiga o fascínio provocado pelo cantor, mas enfatiza o momento histórico de segregação racial dos Estados Unidos — barreira que Elvis ajudou a minar.

    Marilyn

    Blonde opta por ressaltar a dor da musa sob uma óptica feminista. Vivendo entre lares adotivos após sua mãe ser internada com esquizofrenia, Norma sofreu abusos sexuais — sina que prosseguiu na vida adulta em Hollywood. À eterna ironia (machista, decerto) de que a loira se beneficiou do papel de mulher-objeto para subir na vida, o filme responde mostrando quão rentável ela foi para seu estúdio na época, a Fox, que explorou sua imagem à exaustão sem pagar por ela de forma justa. A tentativa do filme de exaltar Marilyn como símbolo da opressão masculina, porém, escorrega no básico: toda a vida da atriz é retratada em função de seu relacionamento com os homens. A começar pelo pai que a abandonou e que serve como um narrador em momentos-chave através de cartas. Maridos, namorados e amantes surgem como esperança de dias melhores e apoios para preencher o vazio. Um recurso poético — mas piegas — faz com que ela escute os bebês que perdeu. Ainda que falho, Blonde dá sua ajuda na tarefa de decifrar a esfinge Marilyn — e mostra que ela está longe de descansar em paz.

    Continua após a publicidade

    Publicado em VEJA de 28 de setembro de 2022, edição nº 2808

    CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

    A surpreendente homenagem de Cate Blanchett à brasileira Clarice LispectorA surpreendente homenagem de Cate Blanchett à brasileira Clarice Lispector
    Blonde – Vol. 1
    A surpreendente homenagem de Cate Blanchett à brasileira Clarice LispectorA surpreendente homenagem de Cate Blanchett à brasileira Clarice Lispector
    Blonde – Vol. 2
    A surpreendente homenagem de Cate Blanchett à brasileira Clarice LispectorA surpreendente homenagem de Cate Blanchett à brasileira Clarice Lispector
    Marilyn
    logo-veja-amazon-loja

    *A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Veja e Vote.

    A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

    OFERTA
    VEJA E VOTE

    Digital Veja e Vote
    Digital Veja e Vote

    Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

    1 Mês por 4,00

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

    a partir de 49,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.