Um dos países mais importantes para a história do cinema, a Itália é berço de alguns dos autores mais seminais do ramo, mas sua vocação para a arte das imagens em movimento tem mais motivos que a simples beleza das paisagens e sua rica dramaticidade: entre eles, está o Centro Sperimentale di Cinematografia, faculdade de cinema mais antiga do planeta, onde se formaram mestres como Antonioni e Umberto Lenzi. Agora, a escola é palco de disputa contra o governo liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni, do partido de extrema direita Fratelli d’Italia, e os estudantes recrutaram o apoio de alguns dos principais cineastas do país, como Luca Guadagnino, Marco Belocchio, Alice Rohrwacher, Paolo Sorrentino e Matteo Garrone, além de aliados estrangeiros como Wim Wenders, todos signatários da petição iniciada, que já conta com mais de 5 000 adeptos.
O motivo é uma legislação que atualmente passa pelo crivo do Parlamento italiano. Parte de um projeto de lei maior, a mudança encerraria o mandato da presidente da faculdade, Marta Donzelli — produtora responsável por sucessos independentes do país, como Siberia, de Abel Ferrara —, dois anos antes do esperado, junto àqueles que ocupam os cargos de liderança restantes. Além da mudança de comando, a novidade daria a diversos ministérios italianos o poder de apontar membros do conselho da faculdade — antes designados pela presidente da instituição —, e também aumentaria as funções de tal conselho.
Inconformados, estudantes do Centro protestaram em frente ao Parlamento no começo da semana, e agora aguardam um voto de ratificação, que pode efetivar a mudança ainda nos próximos dias. A extrema direita chegou ao poder na Itália em setembro de 2022, quando Meloni e o partido Irmãos de Itália foram eleitos com mais de 44% dos votos na eleição nacional. Além da faculdade, a administração atual já mudou o quadro de funcionários da rede estatal Rai Italia.
Em entrevista ao portal americano Variety, uma das líderes do movimento estudantil, Sarah Narducci, afirma que a tentativa de mudar a direção antes do período ideal é inédita, e ainda aponta que as tentativas de negociação com Federico Mollicone, chefe da comissão cultural do parlamento, foram negadas pelo político: “Havíamos marcado uma reunião, mas ele cancelou no último minuto e correu para aprovar a legislação”. Para o mesmo veículo, o diretor artístico do Festival de Veneza, Alberto Barbera, expressou seu medo de que o progresso antiburocrático de Donzelli seja revertido antes de finalizado: “É uma pena privá-la de completar seu trabalho, e não parece certo”.