Após A Pequena Sereia, a Disney segue com seu planejamento extenso de clássicos da animação que serão transformados em live-action: o próximo projeto do calendário a estrear nos cinemas é Branca de Neve, refilmagem de Branca de Neve e os Sete Anões, de 1937, programado para março de 2024. Muito antes de estrear, a produção vem se envolvendo em polêmicas de todos os lados, desagradando a gregos e troianos, atiçando a ira de grupos que vão desde pessoas com nanismo até latinos — e passando, como de praxe, por conservadores.
Essa última turma marca presença nas discussões toda vez que um novo live-action é anunciado. Em nome da manutenção das tradições, acabam espalhando comentários preconceituosos pelas redes sociais — como quando A Pequena Sereia virou alvo dos racistas ao escalar a atriz negra Halle Bailey para viver Ariel. Agora, conservadores atacam a Disney por escolher uma protagonista latina para o papel de Branca de Neve, a atriz Rachel Zegler, e também pela proposta de evitar a estereotipificação de pessoas com nanismo — o filme não contará com sete anões, como no clássico. Em vez disso, o grupo será composto por apenas um personagem anão e outros seis sem nanismo, de diferentes etnias.
Recentemente, o jornal britânico The Telegraph publicou uma entrevista com David Hand, que trabalhou como designer para a Disney nos anos 1990, e é filho do também David Hand, diretor do filme original, hoje com 91 anos. Hand vocalizou as críticas às propostas inovadoras do filme. “É um conceito todo diferente e eu discordo totalmente dele, e sei que meu pai e Walt [Disney] também o fariam”, disse. Ele continua, qualificando como “desgraça” e “insultante” que o estúdio esteja “tentando fazer algo novo com algo que foi um grande sucesso antes”, desrespeitando a criação de seu pai. Para ele, os pensamentos da Disney são “muito radicais agora”.
Por outro lado, a escolha de Zegler para o papel também incomodou latinos. Na visão de alguns, a atriz busca ocupar um espaço de representatividade em Hollywood sem de fato pertencer ao grupo. Filha de mãe com descendência colombiana e pai com descendência polonesa, para os críticos, tal herança não seria o suficiente para conferir à jovem estrela a “carteirinha” de latina. No entanto, desde que surgiu no radar do público, Zegler sempre fez questão de enfatizar a importância de suas raízes e da cultura latina para sua formação. “Extremamente grata pelo amor que sinto daqueles que me defendem on-line, mas, por favor, não me marque no discurso sem sentido sobre minha escalação. Realmente não quero ver isso”, postou em seu Twitter em 15 de julho, em resposta ao rechaço que vem sofrendo.
extremely appreciative of the love i feel from those defending me online, but please don’t tag me in the nonsensical discourse about my casting.
i really, truly do not want to see it.
so i leave you w these photos! i hope every child knows they can be a princess no matter what pic.twitter.com/AU5PjJutK5
— rachel zegler (she/her/hers) (@rachelzegler) July 15, 2023
Uma última comunidade desconfortável com o longa é a dos atores com nanismo. No ano passado, quando o filme foi anunciado, Peter Dinklage, astro de Game of Thrones, criticou a Disney por refilmar uma história “retrógrada”. Na época, acusou o estúdio de hipocrisia ao escolher uma protagonista latina para o papel principal, diante da manutenção de outros estereótipos negativos. Em resposta, a Disney divulgou qual seria a nova abordagem do longa, sem os clássicos sete anões. Paralelamente, atores com nanismo discordaram da posição de Dinklage, já que a mudança potencialmente tiraria a rara oportunidades de atuação da comunidade. A vida não está fácil para a bela princesa.