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O que é fato e ficção em filmes e séries baseados em casos reais
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O que é verdade em 10 pontos do filme da Lava Jato

Descubra o que realmente aconteceu em algumas cenas da produção baseada no maior caso de corrupção de país

Por Lucas Almeida Atualizado em 15 set 2017, 16h39 - Publicado em 15 set 2017, 14h27
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  • Um filme sobre a história da Operação Lava Jato pode parecer um passo ousado. Entre tantas etapas que ainda se desdobram sob o escrutínio da imprensa, a investigação resultou em um escândalo de corrupção de repercussão mundial, vinculado a esquemas de corrupção que parecem não ter fim. O passo, tomado pelo cineasta Marcelo Antunez, resultou no filme Polícia Federal – A Lei É para Todos, em cartaz desde 7 de setembro.

    A produção, baseada no livro homônimo escrito por Carlos Graieb e Ana Maria Santos, conta a história da operação pela perspectiva da Polícia Federal desde o seu início, em 2013, até a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em março de 2016, mas a pesquisa para o roteiro foi mais além do livro. “Começamos a pesquisar todos os documentos que estavam disponíveis na internet, além de vídeos no YouTube com as delações. Fizemos até entrevistas com pessoas da polícia e do Ministério Público“, explicou Antunez a VEJA. “Mesmo assim, criamos uma ficção. Não estamos fazendo um documentário, então não temos obrigação de ser fieis à realidade.”

    A trama é divida em três filmes, que devem ser lançados a cada ano. “Isso se Brasília não inventar novos roteiros”, brinca o produtor Tomislav Blazic. A segunda parte da franquia já está sendo idealizada e deve se estender desde a condução de Lula até os dias atuais. A agilidade para a produção é para que os filmes sejam lançados “antes que a história fique velha”, garante Antunez.

    Confira agora alguns tópicos abordados no longa e como eles ocorreram na realidade:

    A escapada de Youssef

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    Cena do policial Vinícius (João Baldasserini) perseguindo Youssef (Roberto Berindelli) (Reprodução/Divulgação)

    A prisão de Alberto Youssef, nome fundamental na Operação Lava Jato, por ser um de seus primeiros delatores, ocorre logo na abertura do filme e ganha ritmo de ação eletrizante. A Polícia Federal o prende em uma madrugada, em um hotel em São Luís, capital do Maranhão. Youssef ainda tenta escapar em um táxi, inutilmente.

    Na realidade, a história foi um pouco mais monótona. No dia 16 de março de 2014, sob a coordenação do delegado Márcio Anselmo, de Curitiba, a Polícia Federal monitorava o empresário em sua casa em São Paulo. A localização de um de seus telefones foi perdida e, horas depois, interceptada no Maranhão. Os agentes começaram a ligar para hospedagens da cidade, até que perguntaram para a recepcionista do Hotel Luzeiros sobre Alberto Youssef. Depois de alguns instantes, o próprio empresário atendeu ao telefonema, desligado na cara dele.

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    Em uma entrevista exclusiva para o livro Lava-Jato, de Vladimir Netto (Sextante, 400 páginas, 49,90 reais), Youssef contou que logo imaginou que seria preso ao ter um telefonema desligado abruptamente. Foi até a recepção, descobriu o número de onde partiu a ligação, com o código de Curitiba, e telefonou de volta. Ao atenderem, ouviu apenas “Polícia Federal”.

    O doleiro poderia escapar, mas decidiu esperar, com receio de ser enquadrado por mais um crime, o de fuga. Como as prisões à noite só podem ser feitas em caso de flagrante delito, teve tempo mais que suficiente para levar uma mala com 1,4 milhão de reais a Marco Antonio de Campos Ziegert, com quem viajava junto e que estava hospedado a apenas alguns andares acima.

    No dia seguinte, depois de Youssef ser levado para Curitiba, Ziegert pôde entregar tranquilamente o dinheiro, vindo da construtora UTC/Constran ao então Secretário da Casa Civil, João de Abreu, após negociações com o governo maranhense. O advogado de Abreu, Carlos Seabra de Carvalho Coelho, nega que o cliente tenha recebido a quantia.

    Ivan Romano (Antonio Calloni)

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    Cena do delegado Ivan Romano (Antonio Calloni) (Reprodução/Divulgação)

    O nome do personagem interpretado por Antonio Calloni, Ivan Romano, já insinua a sua relação com o delegado Igor Romário. Apesar da inspiração na atuação, o protagonista representa todos os chefes da força tarefa da Lava Jato até então. “O Ivan é uma junção de vários delegados, porque já foram muitos e ficaria confuso se representássemos todos na história”, explicou Calloni em entrevista a VEJA.

    O ator conversou com Romário durante a preparação para o longa: “Foi um prazer falar com o Igor, porque percebi como ele era uma pessoa muito generosa e ética. Assim, procurei trazer algumas características desse personagem para dentro do filme”. O personagem, como o delegado, participou de ações como a prisão de Alberto Youssef e a condução coercitiva de Lula.

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    Beatriz (Flávia Alessandra)

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    Imagem da delegada Beatriz (Flávia Alessandra) (Reprodução/Divulgação)

    A personagem de Flávia Alessandra também aglutina vários nomes da Polícia Federal. No seu caso, junta todas as delegadas envolvidas nas investigações. A maior inspiração para a atriz foi Érika Marena, que participou desde o inicio da operação e foi responsável por criar o nome “Lava Jato”. “Conversei com a Érika por quatro horas sobre toda a sua história, desde o período na faculdade até hoje. Não quis fazer uma imitação dela, mas roubei várias das suas características”, contou Flávia à reportagem.

    A atuação foi elogiada pela própria delegada: Érika assistiu ao filme na pré-estreia que ocorreu em Curitiba, no final de agosto. “Depois da sessão, ela me disse que conseguiu acreditar na representação do cotidiano deles”, afirmou Flávia.

    A conversa com a agente ainda foi um divisor de águas na preparação da atriz: “Eu imaginava que as mulheres da Polícia Federal eram duronas e masculinizadas. Quando eu conheci a Érika, ela me desmontou, porque é muito doce e tem uma voz com um tom calmo. Isso me fez mudar no processo de criação. Elas não precisam ser abrutalhadas para se impor no meio masculino”, explicou.

    Júlio César (Bruce Gomlevsky)

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    Cena do delegado Júlio César (Bruce Gomlevsky) (Reprodução/Divulgação)

    Bruce Gomlevsky representa Júlio César no filme. Ele também condensa diversos nomes que contribuíram com a operação. O ator contou que a sua maior inspiração foi o delegado da PF Márcio Anselmo, que também participou da operação desde o início. “Estudei o cotidiano desses agentes dentro da polícia e, conversando com eles, percebemos como são pessoas comuns, que também têm uma família e vida pessoal.”

    Anselmo também foi um dos primeiros delegados a integrar o grupo da Operação Lava Jato. O filme retrata cenas fiéis, descritas por Vladimir Netto no livro, como o momento em que ele investiga, durante um Natal no sítio da família, a Land Rover paga por Youssef. O policial estranhou a compra do bem, que estava em nome de Paulo Roberto Costa. Mais para a frente, descobririam que se tratava de um ex-diretor da Petrobras.

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    Ítalo (Rainer Cadete)

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    Imagem do procurador Ítalo (Rainer Cadete) (Reprodução/Divulgação)

    Rainer Cadete vive o procurador da Justiça Ítalo no filme. Apesar de também ser uma síntese de diversos procuradores que atuaram na operação, o ator contou a VEJA que a sua maior inspiração veio de Deltan Dallagnol. “Assisti a todos os vídeos do Deltan que encontrava na internet e também estudei termos jurídicos para tentar ficar mais familiarizado”, explicou. “Fui ao local de trabalho do Dallagnol e de outros procuradores para entender um pouco mais sobre as motivações dessas pessoas.”

    A escolha de Rainer, de apenas 30 anos, para o papel não foi por acaso. Deltan foi escolhido para integrar a força-tarefa montada dentro do Ministério Público Federal para cuidar da Operação Lava Jato com apenas 34 anos, logo após a primeira deflagração, em 2014. Atualmente, é coordenador da mesma força-tarefa.

    Estrela Cadente

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    Cena do filme ‘Polícia Federal – A Lei pe para Todos’ (Reprodução/Divulgação)

    A 24° fase da Operação Lava Jato, em que o ex-presidente Lula foi levado em condução coercitiva, foi motivo de piada no filme. Os personagens da Polícia Federal pensam em chamar a etapa de “Estrela Cadente“, se referindo ao símbolo do PT. Não há nenhum registro dessa brincadeira. A fase acabou sendo intitulada de Aletheia. A palavra grega significa “verdade”.

    De acordo com o livro de Vladimir Netto, a Operação Aletheia foi criada pela Polícia Federal com o objetivo de “buscar a verdade”. Para isso, duzentos agentes da instituição e 30 auditores da Receita Federal cumpriram 44 mandados judiciais, sendo 33 de busca e apreensão e onze de condução coercitiva, no Estado de São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia, no dia 4 de março de 2016. Entre os lugares visitados, ainda estavam a casa do filho de Lula em Moema e os famosos sítio de Atibaia e triplex do Guarujá.

    A condução de Lula

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    Cena da condução coercitiva de Lula (Ary Fontoura) (Reprodução/Divulgação)

    Uma das últimas sequências de Polícia Federal – A Lei é Para Todos mostra a condução coercitiva de Lula. Como representado no longa, policiais bateram à porta do ex-presidente em seu apartamento em São Bernardo, São Paulo, e foram atendidos pelo próprio, vestido com roupa esportiva. Lula se preparava para ir à academia, de acordo com o livro de Carlos Graieb e Ana Maria Santos.

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    O petista foi levado para a Sala da Presidência da República no Aeroporto de Congonhas, onde foram rodadas as cenas do filme. Manifestantes começaram a se concentrar do lado de fora do local, o que fez com que os agentes agilizassem as perguntas, antes que ações violentas pudessem ocorrer.

    Em Lava-Jato, Vladimir Netto diz que Lula realmente queria sair dali e confraternizar com as pessoas que o apoiavam do lado de fora. Os delegados propuseram uma saída discreta, de olho na crescente agressividade dos manifestantes pró e contra-Lula. Depois de uma longa conversa, ele aceitou sair pelos fundos e entrar no carro de um dos seus advogados.

    A ameaça velada

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    Cena de Lula (Ary Fontoura) (Reprodução/Divulgação)

    O ator Ary Fontoura, que dá vida a Lula no filme, faz uma ameaça aos policiais antes de entrar no carro de seu advogado, depois do depoimento no Aeroporto de Congonhas. Sem hesitar, o personagem diz sutilmente que, quando eleito presidente em 2018, vai se “lembrar” dos agentes. No entanto, não há nenhum registro de tal ameaça. Vladimir Netto conta que o presidente se despediu de forma amistosa. Além de cumprimentar os policiais, não deixou de cobrar que devolvessem as coisas que pegaram do apartamento de São Bernardo do Campo, com um mandato de busca e apreensão.

     

    “Que país é esse?”

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    Cena do filme ‘Polícia Federal – A Lei é Para Todos’ (Reprodução/Divulgação)

    Renato Duque não deixou de demostrar a sua insatisfação ao descobrir que seria levado em prisão preventiva no dia 14 de novembro de 2014. O ex-diretor da Petrobras ficaria marcado a partir disso pela frase, que também aparece no filme: “Que país é esse?”. A sentença foi exclamada por telefone a seu advogado, Alexandre Lopes, que tentava entender e explicar ao cliente qual seria o procedimento da Polícia no local.

    Lula grampeado?

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    O juiz Sérgio Moro (Marcelo Serrado) em cena do filme (Reprodução/Divulgação)

    Após o anúncio de que Lula seria Chefe da Casa Civil do governo Dilma em março de 2016, uma sequência digna de filme aconteceu. De acordo com o livro Polícia Feral – A Lei É Para Todos, o presidente do PT, Rui Falcão, divulgou no dia 16, através do Twitter, que a posse de Lula aconteceria em seis dias.

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    Às 11h12 do mesmo dia, o juiz Sérgio Moro determinou o fim das interceptações dos telefones de Lula, conhecidas como grampo, já que o ex-presidente passaria a ter foro privilegiado como ministro. Entre a decisão e o desligamento efetivo, que é realizado pela companhia telefônica, uma ligação entre Dilma e Lula foi gravada às 13h32. Nela, a presidente avisava que estava enviando o termo de posse para Lula, que poderia utilizá-lo “em caso de necessidade”.

    Ao ouvir isso, Moro suspendeu o sigilo sobre os diálogos e o telefonema começou a ser interpretado da seguinte maneira: caso houvesse um mandado de prisão, Lula usaria o termo de posse para mostrar que já era ministro e, portanto, tinha foro privilegiado. Essa é a última cena do longa e marca o início do segundo filme da franquia, que tem previsão de estreia para 2018.

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