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O chocante escândalo de corrupção por trás de ‘A Cidade É Nossa’, da HBO

Minissérie acompanha equipe da polícia de Baltimore que virou uma milícia lucrativa e violenta

Por Amanda Capuano 20 jun 2022, 16h22
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  • Em março de 2017, oito policiais chegaram ao Departamento de Polícia de Baltimore, no estado americano de Maryland, para esclarecer os detalhes de uma operação que acabou com um carro danificado. Chefiado pelo sargento Wayne Jenkins, o grupo foi surpreendido pelo FBI e saiu algemado do local. Após meses de uma investigação sigilosa, descobriu-se que a equipe, antes tida como excepcional pelo alto número de apreensões de armas e drogas, era, na verdade, uma milícia que aterrorizava moradores, abusava da autoridade, roubava dinheiro e até revendia armas e drogas apreendidas em serviço. Narrado no livro We Own This City, do repórter Justin Fenton, o caso real ganhou as telas na recém finalizada minissérie A Cidade É Nossa, da HBO, disponível na HBO Max.

    Descrito em um relatório independente como “o mais chocante escândalo de corrupção da história da polícia de Baltimore”, o caso retratado se desenrolou a partir de 2007, com a criação da GTTF, sigla em inglês para Força Tarefa de Controle de Armas. A ideia, na época, era criar uma equipe especializada, que se empenhasse na busca e apreensão de armamentos na região. “O departamento de polícia de Baltimore, reconhecendo que o problema talvez fosse mais armas do que drogas, queria aplicar uma abordagem mais inteligente”, explicou Fenton em entrevista ao The Guardian. “Ao longo dos anos, essa ideia se perdeu e eles se tornaram mais uma unidade de policiais à paisana comandando a cidade. Eles estavam trabalhando nas sombras”, complementou o autor.

    Comandada pelo corrupto Jenkins, vivido na produção por Jon Bernthal, a equipe se tornou uma milícia lucrativa. Contando com a omissão do alto escalão de segurança pública, que fechava os olhos para casos suspeitos para que as apreensões seguissem dando status ao departamento, os policiais aplicavam técnicas sujas para atender aos próprios interesses. Uma delas, retratada na produção, era parar moradores por infrações com o uso do cinto de segurança. Eles, então, alegavam ter algo suspeito no carro, e usavam os documentos para descobrir o endereço dos moradores. Mais tarde, apareciam nas casas sem mandados para apreender dinheiro, drogas e armas com os quais lucravam posteriormente. No total, estima-se que a equipe tenha embolsado no mínimo 300.000 dólares em espécie e milhares em jóias, além de 43 quilos de maconha, 800 gramas de heroína e três quilos de cocaína, que, não raro, eram revendidas ou usadas para plantar “provas” e inflar os números de apreensão da equipe. 

    Embora o esquema tenha sido deflagrado em 2017, a investigação em si começou dois anos antes, em 2015. Na ocasião, a Drug Enforcement Administration (DEA), assim como na série, rastreou o agente Momodu Gondo, que se acreditava estar trabalhando com traficantes de drogas e ajudando criminosos a escapar de acusações de tráfico. Pressionado, Gondo admitiu o esquema, e as autoridades começaram a investigar toda a unidade. Ao final da investigação, oito agentes foram condenados — Jenkins, o líder deles, sentenciado a prisão até janeiro de 2039. Como resultado do escândalo, a procuradoria de Baltimore dispensou mais de 100 casos que envolviam os policiais. Em 2019, a procuradora Marilyn Mosby revelou que cerca de 800 casos conduzidos pela equipe corriam o risco de serem cancelados por conta do escândalo.

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