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Por Amanda Capuano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
O que é fato e ficção em filmes e séries baseados em casos reais
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Filme ‘Jackie’ tem muita imaginação — e fatos surpreendentes

Filme acompanha os primeiros dias da ex-primeira-dama americana após o assassinato do marido John F. Kennedy

Por Mariane Morisawa, de Los Angeles
Atualizado em 11 fev 2017, 09h02 - Publicado em 10 fev 2017, 16h35
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  • Jackie, longa dirigido por Pablo Larraín com roteiro de Noah Oppenheim, recria os dias da primeira-dama dos Estados Unidos Jacqueline Kennedy (Natalie Portman) após o assassinato de seu marido, o presidente John F. Kennedy, que ela acompanhava em um carro aberto durante a caravana em Dallas em que foi atingido por três tiros, em novembro de 1963. Oppenheim era fascinado pela personagem desde novo, pois sua mãe tinha uma coleção de artigos de revista e recortes de jornal sobre a primeira-dama. Ele complementou sua pesquisa com livros escritos na época, além dos registros orais de pessoas presentes na Casa Branca naqueles dias, arquivados na Kennedy Library, em Massachusetts. Jornalista, Oppenheim tentou se manter fiel aos fatos tanto quanto possível.

    “Senti a responsabilidade de não retratar nada que fosse factualmente impreciso de maneira tão extensa que sabemos que não aconteceu daquela maneira, por exemplo. Claro que há muitas coisas que não sabemos e não temos como saber sobre o que Jackie estava fazendo a portas fechadas quando estava sozinha ou qual era o seu estado mental. Então, em alguns pontos mais psicológicos, como o das cenas privadas, obviamente há uma licença dramática grande. Mas tudo é baseado em pesquisa e, espero, faça uma dedução acertada quando estamos inventando certos aspectos.” O filme pula no tempo, alternando a sequência de fatos após o assassinato com uma entrevista dada por Jackie uma semana após o crime e conversas com um padre.

    A visita televisada à Casa Branca

    Filme 'Jackie'

    Jacqueline Kennedy, um pouco insegura e tímida, abre a Casa Branca pela primeira vez para uma visita mostrada na televisão. Isso aconteceu de verdade e pode ser visto na internet, provando o trabalho de interpretação impressionante de Natalie Portman. “Foi uma das primeiras vezes em que a televisão foi utilizada para criar uma imagem política”, disse ao blog É Tudo História Noah Oppenheim, roteirista de Jackie. Curiosamente, porém, a cena não estava no roteiro original e foi incluída a pedido do diretor, Pablo Larraín. “Achamos que era um lembrete poderoso do que foi perdido com o assassinato de John F. Kennedy, e mais um bom exemplo de como Jackie utilizou a televisão e a arte para passar uma mensagem política”, afirmou Oppenheim.

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    Rosto manchado de sangue

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    Jacqueline Kennedy estava ao lado do marido numa caravana pelas ruas de Dallas, Texas, quando ele levou os tiros, caindo no colo da primeira-dama, morto. A cena sempre foi vista de longe, graças à famosa filmagem de Abraham Zapruder. Aqui, Larraín reproduz a sequência de perto, sob o ponto de vista dela. Depois, acompanha Jackie nos momentos que se seguiram: por exemplo, quando, de volta ao avião presidencial, entra no banheiro para limpar o rosto sujo de sangue. “Esta é uma cena que imaginei, mas certamente vem da realidade, porque ela conseguiu se limpar só no avião, indo de volta para Washington”, diz Oppenheim. “Para mim, a força da cena vem da performance de Natalie, que realmente é extraordinária. Ela faz um trabalho incrível de mostrar a dor e o trauma daquele momento.” Um diálogo no hospital com o agente Hill, que aparece nas imagens de Zapruder subindo no carro para ajudar a primeira-dama, em que Jackie pergunta sobre o calibre das balas, foi inventado.

    A posse do novo presidente

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    O vice-presidente Lyndon B. Johnson foi empossado ainda no avião presidencial, com o caixão levando o corpo de Kennedy ao fundo, e Jacqueline Kennedy a seu lado, apesar de todo o trauma. Bobby Kennedy, irmão do presidente morto, depois ficaria bravo porque Johnson tomou posse no avião, ao lado do corpo de seu irmão. “Mas, em alguma medida, acho que ele sabia ser necessário”, diz Oppenheim. Um pouco mais tarde, ela sussurra para Johnson: “Que maneira horrível de começar sua presidência”. O roteirista admite que não se recorda se a frase realmente foi dita. “Mas eu acho que ela disse, sim, algo parecido com isso.”

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    Roupa suja

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    Jacqueline Kennedy vestia um tailleur rosa Chanel na visita presidencial a Dallas. No filme, várias pessoas sugerem que ela troque de roupa, mas a primeira-dama responde: “Deixe que eles vejam o que fizeram”. “Há relatos de que ela realmente disse isso”, conta Oppenheim. Jackie permaneceu no conjunto manchado de sangue até chegar à noite na Casa Branca.

    Preparação do funeral

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    Já no avião de volta para Washington, a primeira-dama começa a falar sobre o funeral. “Naquela mesma noite, pediu para irem à Biblioteca do Congresso e pegarem o livro sobre o funeral de Abraham Lincoln”, diz Oppenheim, referindo-se ao presidente conhecido por abolir a escravidão, assassinado em 1865. O funeral previa uma procissão pelas ruas de Washington, que aconteceu. “Houve uma boa dose de desacordo em relação a isso na Casa Branca, se era uma boa ideia ou não”, conta Oppenheim. “Naquele momento, as pessoas não sabiam ainda se o assassino, Lee Harvey Oswald, tinha agido sozinho e se o assassinato do presidente estava conectado a um plano mais amplo. Então, a noção de que, alguns dias mais tarde, Jackie, a família e representantes de outros países estariam caminhando na rua, desprotegidos, parecia algo muito arriscado.” No filme, Jackie aparece mudando de ideia sobre o funeral diversas vezes, o que não necessariamente é fato. “Sobre as idas e vindas não sabemos com certeza. Mas sabemos que foi sua ideia desde o princípio de se espelhar no funeral de Lincoln. Foi ela que defendeu a ideia. Então, certamente houve esse debate interno em termos do que fazer.” Ela planejou o funeral pensando em como ia aparecer na televisão. “Ela sabia qual seria a reação das pessoas e o que representaria para a reputação de seu marido”, diz Oppenheim. “A imagem superficial que se tinha dela não lhe fazia justiça porque ela era muito sofisticada e inteligente e corajosa e muito à frente de seu tempo em termos de usar as diferentes ferramentas da mídia de massa para comunicar uma mensagem política.”

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    A família quer enterrar o presidente no jazigo dos Kennedy, mas Jackie não acha que é o suficiente. Ela mesma vai ao cemitério de Arlington e escolhe o local exato, com vista para o Memorial a Lincoln, como aconteceu mesmo. No filme, seus saltos afundam na lama. “Não sei se a parte do sapato é verdade, mas estava chovendo, então…”, diz Oppenheim.

    Presença dos filhos

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    Ficaram famosas as fotos de Caroline Kennedy, na época com 5 anos, e John F. Kennedy Jr., que completou 3 no dia do enterro de seu pai, durante as cerimônias do funeral. Muita gente criticou Jackie por expor as crianças. No filme, ela diz: “As fotos devem retratar a verdade”. “Ela realmente expressou isso, tinha consciência mesmo naqueles dias do que estava sendo gravado e achava que as pessoas precisavam entender a dor que seus filhos estavam sentindo”.

    Noite de bebedeira

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    Numa das cenas do filme, de volta à Casa Branca, Jackie anda pelos cômodos trocando de vestido toda hora, bebendo e fumando. “Aquela sequência é mais impressionista, não é para ser tomada literalmente”, diz Oppenheim.

    Confissões ao padre

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    No filme, Jackie encontra-se com um padre (no último papel do ator John Hurt) nos dias seguintes ao assassinato. “Existe ali uma boa dose de licença criativa”, explica o roteirista. “Mas sabemos que ela escreveu cartas para padres nos meses após o assassinato em que ela estava em conflito com muitas das ideias naquele diálogo que inventamos.” Católica, questiona sua fé e pergunta por que Deus faz ela passar por tudo isso – antes de ver o marido ser assassinado, Jackie tinha perdido dois filhos.

    Medo de morrer na pobreza

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    Em alguns momentos do filme, ela repete seu medo pelo futuro de seus filhos. “Ela realmente falou muito abertamente sobre sua ansiedade financeira para seus amigos e família na época”, diz Oppenheim. “Ela sabia que Mary Todd Lincoln, mulher de Abraham Lincoln, morreu na pobreza e, talvez irracionalmente, temia que o mesmo acontecesse a ela.”

    A entrevista

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    Os acontecimentos nos dias após o assassinato são intercalados no filme com uma entrevista que Jackie dá a um jornalista uma semana depois do crime. De fato, a primeira-dama falou com Theodore H. White, da revista Life. “Ele era amigo da família, e Jackie o convidou para ir para a casa dos Kennedy em Hyannis Port”, diz Oppenheim. Mas, no longa-metragem, seu nome não aparece, ele é apenas “o jornalista”. “Porque ali ele representa vários jornalistas e historiadores com quem interagiu ao longo dos anos, inclusive alguns com quem teve relacionamentos mais conturbados. Theodore era um amigo. Então, os diálogos naquela cena refletem seus esforços ao longo de sua vida de gerenciar sua imagem pública, ter controle sobre o que era escrito sobre ela, o que era publicado”, explica o roteirista. Jackie ditava o que podia ou não ser publicado do que dizia. Por exemplo, fumava, mas não queria que ninguém soubesse, como no filme. Outra coisa curiosa é que Theodore H. White realmente ditou a reportagem por telefone, da cozinha dos Kennedy. “É verdade, eles estavam segurando as rotativas para a matéria poder entrar”, conta Oppenheim.

    O mito de Camelot

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    É comum que a administração Kennedy seja referida como Camelot – originalmente, a sede da corte do lendário Rei Arthur. Oppenheim achava que tinha sempre sido assim, mas descobriu durante a pesquisa que o termo foi cunhado por Jacqueline Kennedy, preocupada com o legado de seu marido, na entrevista a Theodore H. White. “Para mim, era algo que vinha de sua campanha ainda”, diz Oppenheim. “Mas foi ela quem inventou todo o mito.” Ela citou os versos de um dos números do musical Camelot como os favoritos de seu marido: “Não deixem esquecer, que uma vez houve um lugar, que por um momento breve e brilhante era conhecido como Camelot”. E assim se fez o mito.

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