Japoneses dormem durante o dia nos mais diversos cantos: bancos de praças, calçadas, templos, salas de reunião. Alguns pegam no sono até em pé no trem.
Acima de tudo, trata-se de uma questão fisiológica. Eles cochilam à luz do dia porque dormem mal em casa. Um estudo patrocinado pelo governo mostrou que quatro em cada dez japoneses dorme menos de seis horas por noite. São o povo com menos horas de sono, às vezes apenas ultrapassados pela Coreia do Sul ou por Singapura, dependendo do estudo que se olha. É natural que sintam sono depois.
Mas também há uma questão cultural por trás disso. Os japoneses aplaudem quem dorme mais tarde porque estava estudando ou trabalhando. No passado, os samurais eram valorizados quando acordavam no meio da noite para estudar. E eles também elogiam quem levanta cedo.
Sendo assim, se alguém cochila no meio de uma reunião na empresa porque andou trabalhando demais, não há problema algum. Pelo contrário, a pessoa pode até ser promovida.
Mas, se pescou com o pescoço porque estava com resfriado ou passou a noite na balada, aí certamente será censurado pelos colegas ou pelo chefe.
O ato de cochilar em público durante o dia tem até um nome: inemuri. O termo quer dizer “dormir na presença dos outros”.
Quem pratica inemuri deve seguir algumas regras, entre elas a de ser compacto. Não pode invadir o espaço alheio, colocar o pé na mesa, deitar no banco ou fazer barulho demais. Nada de ronco, portanto.
Também não se pode preparar o lugar. É preciso cair no sono de surpresa, como se estivesse lutando até o último minuto contra ele. Nas reuniões de trabalho, por exemplo, basta abaixar a cabeça. Se alguém fizer uma pergunta, às vezes dá até para levantar devagarzinho e respondê-la.
Nos eventos de empresas multinacionais em outros países, é normal que os japoneses compareçam em duplas. Enquanto um cochila, o outro fica acordado.
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Alguns especialistas dizem que a facilidade com que os japoneses fazem isso em público tem também a ver com a forma como são criados. Lá, as crianças dormem na cama dos pais até aproximadamente os 10 anos de idade. Para muitos pais, é uma forma de apoiá-las no crescimento para que, mais tarde, elas busquem seu próprio caminho e sejam mais estáveis.
Após o tsunami que destruiu cidades inteiras do Japão, em 2011, muitos japoneses se sentiram bem em dormir com os outros em espaços coletivos. Em entrevistas, sobreviventes falaram que isso lhes deu conforto e os ajudou a relaxar.