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Partidos perdidos

As siglas se distanciam cada vez mais da sociedade, numa trajetória nefasta da qual só sairão mediante uma reforma referida nas demandas do eleitorado

Por Dora Kramer Atualizado em 4 jun 2024, 13h44 - Publicado em 4 jun 2021, 06h00
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  • O presidente do Patriota, Adilson Barroso, e Flávio Bolsonaro exibem ficha de filiação do senador ao partido
     (Reprodução/Twitter)

    O vaivém do presidente da República na escolha de um partido para se filiar a fim de concorrer à reeleição de 2022 — são dez as legendas que já transitaram pelo radar de Jair Bolsonaro — não traduz apenas o movimento de alguém que já pertenceu a oito legendas ao longo de trinta anos de vida política.

    A indefinição evidencia, também, uma tendência já posta na sociedade, e agora crescente no mundo político, de menosprezar a importância das siglas na definição das escolhas dos candidatos a mandatos eletivos. Basta ver a ligeireza com que políticos mudam ou admitem mudar de legendas, algumas tradicionais, em razão das circunstâncias.

    O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia sairá do DEM depois de uma vida inteira no partido devido a divergências com o seu presidente, ACM Neto. O destino mais provável de Maia seria o PSD, presidido por Gilberto Kassab. Hoje se diz que ele acompanhará o aliado prefeito do Rio, Eduardo Paes.

    Caso se confirme a filiação, ela vai significar a deglutição de um sapo robusto por parte de Rodrigo Maia. Pelo seguinte: Kassab saiu do DEM acusando o deputado, à época presidente do partido, de ter fraudado o estatuto para favorecer aliados e agora seria superior hierárquico do acusado. Uma condição tida como humilhante para Maia, discretamente comemorada por seus adversários.

    Outra situação é a do ex-governador Geraldo Alckmin, autor da assinatura de número 7 na filiação ao PSDB. Ele está prestes a sair do ninho tucano para aderir a uma das nove agremiações (PSB, Podemos, DEM, Avante, PSL, PSD, PP, PV e PL) que lhe ofereceram abrigo para concorrer ao governo de São Paulo, caso o governador João Doria seja escolhido candidato à Presidência.

    Nessa hipótese, estaria consolidada a ideia de que o PSDB ficaria reduzido à condição de um cartório de Doria, desprovido da importância nacional que já teve quando ocupou a Presidência da República por oito anos e governou os três maiores colégios eleitorais do país, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

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    “Distantes da sociedade, legendas partidárias têm cada vez menos valor para o destino de candidatos”

    A derrocada de confiabilidade partidária não atinge apenas o tucanato. Alcança o espectro partidário de modo geral. Geraldo Alckmin, por exemplo, com o capital de ter sido quatro vezes governador de São Paulo e duas vezes candidato à Presidência, tem dado mais importância a conversas com sindicatos, universidades, igrejas (“sérias”, ressalva ele), entidades de classe e grupos ligados à cultura do que propriamente aos partidos. Na visão dele, a filiação partidária influencia pouco ou quase nada como fator de competitividade eleitoral.

    E como chegamos a isso? Primordialmente em decorrência das regras frouxas que facilitam a criação de partidos e da concepção de que o contribuinte tem obrigação de sustentá-los com dinheiro público. No mundo, o Brasil integra um terço das nações que adotam o financiamento público, contra a maioria, que dá às legendas a responsabilidade sobre seu sustento.

    Hoje há 33 legendas registradas na Justiça Eleitoral que dividem os recursos de mais de 3 bilhões de reais, considerando as verbas de dois fundos, eleitoral e partidário. Isso sem contar os cerca de 600 milhões de reais decorrentes da renúncia fiscal das emissoras pela transmissão dos horários eleitorais no rádio e na televisão.

    Numa conta rápida, cada deputado eleito, entre os 513 integrantes da Câmara, rende entre 11 milhões e 13 milhões de reais aos cofres dos partidos. Isso transforma os partidos em balcões de negócios lucrativos. Na eleição de 2014, o PSL elegeu um deputado federal. Na seguinte, com a filiação de Jair Bolsonaro, fez 52 deputados e quatro senadores.

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    Em tese, isso faria com que as agremiações disputassem a filiação do presidente e, na realidade, todas (à exceção do PTB e agora do Patriota) recusaram. Por quê? Porque nenhuma delas concordou em transferir para a família o poder cartorial de manejar o negócio. A exigência dos Bolsonaro era ter o controle total da legenda, aqui considerados o dinheiro (público, note-se de novo), a escolha de candidatos e o poder de mando sobre alianças.

    Essa é a triste situação em que se encontram perdidos os partidos e a sociedade, da qual as agremiações se distanciam cada vez mais, numa trajetória nefasta da qual só sairão mediante uma reforma séria e referida nas demandas do eleitorado.

    Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

    Publicado em VEJA de 9 de junho de 2021, edição nº 2741

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