13 de março, 10h: Há 14 dias a FDA, agência regulatória de medicamentos e alimentos dos Estados Unidos, autorizou o uso emergencial da vacina da Johnson & Johnson nesta pandemia. Órgãos sanitários canadenses também já aprovaram a aplicação do imunizante no país. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA), responsável pelo aval no bloco da União Europeia, foi a terceira a dar sinal verde para o antígeno ser mais uma vacina no controle do vírus. Nesta sexta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) engrossou a lista e elencou a vacina da J&J como uma ferramenta segura e efetiva contra a doença e a inseriu entre aquelas que fazem parte do Covax Facility, consórcio para distribuir doses a países pobres e em desenvolvimento. Enquanto isso, nenhuma palavra sobre quando os mais de 45.000 voluntários em todo o mundo que se alistaram para os ensaios clínicos terão a oportunidade de saber se receberam, no ano passado, uma substância com o princípio ativo ou uma ampola com soro fisiológico.
No momento da mais acentuada curva de casos de Covid no Brasil, o novo epicentro de contágios em todo o mundo, estamos alijados de informação. Como voluntária da pesquisa científica em prol da vacina da Janssen, faço parte do grupo de 7.560 brasileiros que se disponibilizaram a ajudar os cientistas a desenvolver o imunizante e testar com nosso corpo a eficácia do produto e suas possíveis reações adversas. Os resultados foram muito positivos, e não houve registros de danos colaterais graves relacionados à vacina entre nós. Outra grande descoberta foi a eficácia de 87% contra formas graves da variante brasileira do vírus e de 81% contra quadros severos provocados pela cepa sul-africana. Há uma sensação de dever cumprido – e de alívio por termos ajudado a colocar de pé mais uma arma de controle do coronavírus.
Ainda assim, estamos, os voluntários, às cegas por não sabermos quando chegará a informação sobre se estamos ou não imunizados. Todos conhecemos pessoas que não resistiram à doença, que estão internadas, desenganadas ou felizmente que enfrentaram a Covid sem maiores contratempos. Nos sentimos no direito de saber desde já o conteúdo da ampola que recebemos. FDA, Canadá, EMA e OMS já disseram sim para a vacina. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se reunirá com os executivos da empresa na terça-feira próxima e em breve também deve avalizar o uso emergencial do imunizante. O que mais falta para quebrar o duplo-cego?
O blog conversou com pessoas que chegaram a cogitar entrar na Justiça para saber de imediato se receberam a vacina verdadeira ou um placebo. O motivo não tem nada de egoísta: com voluntários em idade de vacinação e podendo receber a CoronaVac ou o imunizante desenvolvido pela parceria Oxford-AstraZeneca, é preciso saber se é o caso de abandonar a pesquisa clínica da Janssen e migrar para a vacina concorrente ou, por já estar imunizado, abrir caminho para que outras pessoas recebam as doses oferecidas pelo governo.
Como voluntária, também já recebi um sem-número de versões desencontradas sobre quando os dados da vacina serão disponibilizados: ora depois que traduzirem a documentação enviada a FDA, ora depois que a Anvisa disser que sim, ora em um genérico “futuro breve”, ora “em março”, ora “não temos essa informação”.
Os americanos, cujo governo financiou importante parte da pesquisa de elaboração de um produto de dose única e fácil armazenamento, já estão recebendo normalmente a vacina da Janssen. Só nas últimas 24 horas, segundo cálculos do conselheiro sênior da Casa Branca para a Covid, Andy Slavitt, 240.000 doses deste imunizante foram aplicadas no país.
Estamos esgotados, abram os dados da vacina.