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Populismo educacional

É errada a ideia de educação superior como sinônimo de civilização

Por Cristovam Buarque Atualizado em 3 jun 2024, 16h59 - Publicado em 10 Maio 2024, 06h00
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  • Sisu é o programa federal que seleciona estudantes para instituições públicas de ensino superior com base na nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
    Sisu é o programa federal que seleciona estudantes para instituições públicas de ensino superior com base na nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) (Thinkstock/VEJA/VEJA)

    Nas últimas décadas, sucessivos governos democráticos adotaram o populismo educacional que prioriza o ensino superior sobre a educação de base. Aumentaram nas universidades vagas que agora não são preenchidas por três razões: o número de concluintes do ensino médio não cresceu na mesma proporção do aumento de vagas no ensino superior; a falta de cuidado com a educação de base forma candidatos reprovados no vestibular ou sem preparo para concluir seus cursos; e o ensino superior já não atrai porque seu propósito passou a ser o diploma, sem compromisso com a qualidade para assegurar empregabilidade e inclusão na atual era do conhecimento. Com o ensino médio de qualidade apenas para poucos, fracassou a estratégia educacional de iludir com a promessa de universidade para todos.

    “Fracassou a estratégia de iludir a população com a promessa de universidade para todos”

    O populismo afirma que educação é um direito que deve ser outorgado, independentemente do esforço e da competência. Em vez de criar um sistema que assegure a todos a chance de obter mérito em escolas públicas de qualidade, adotou a narrativa de abolir o mérito. Não investe na educação de base com qualidade porque o ingresso de todos na universidade é visto como um direito possível, que independe da formação anterior. O populismo educacional não se preocupa com a erradicação do analfabetismo nem promove campanha para isso. Promete universidade para todos mas não busca assegurar educação primária e secundária com a mesma qualidade, e por isso não adota estratégia para construir um sistema público de educação de base. Deixa o assunto para os municípios. Sacrifica os pobres, iludindo-os e ao país de que não conseguirá sair da armadilha da renda média baixa, em que estamos há décadas, devido em parte à falta de produtividade, o que provoca a pobreza geral; não consegue, tampouco, quebrar o círculo vicioso da desigualdade social por falta de equidade na qualidade escolar.

    Se a democracia tivesse adotado responsabilidade fiscal e educacional, hoje teríamos uma renda per capita no nível da dos países que saíram da arapuca da renda média, e essa renda nacional ampliada estaria bem distribuída, conforme o mérito adquirido na escola de qualidade. Mas, no lugar de assegurar boa escola a todos, de acreditar que todos têm potencial e de respeitar o mérito adquirido, os populistas têm preferido manter um sistema com “escolas senzala” e “escolas casa-grande”. Prometendo facilidades ao ingresso na universidade para aqueles aos quais foi negada educação de base. Essa tática, positiva para mitigar as consequências da desigualdade herdada, se transforma em uma filosofia permanente que realimenta a desigualdade, fazendo-a ser aceita e tolerada graças à alforria concedida a poucos; e facilitando vitórias eleitorais ao corromper a mente do eleitor e comprometer o futuro do país. Os populismos, fiscal e educacional, são as principais causas que, ao longo das décadas democráticas, impediram o Brasil de saltar para o patamar civilizatório que se deseja. Bastaria parar de iludir. Perceber que sem a base educacional o país fracassa, a começar pelas universidades. Definir os gastos públicos dentro dos limites fiscais. Sobretudo, implantar estratégia para construir um robusto sistema nacional de educação de qualidade, para todos poderem desenvolver o próprio mérito.

    Publicado em VEJA de 10 de maio de 2024, edição nº 2892

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