Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês

Cristovam Buarque

Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Continua após publicidade

Mais do mesmo

A nova reforma do ensino médio deixa a desejar (de novo)

Por Cristovam Buarque Atualizado em 26 jul 2024, 12h38 - Publicado em 26 jul 2024, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Neste mês, o Brasil lançou uma lei para a reforma do ensino médio, a segunda em apenas seis anos. Mais uma vez, vê-se uma modesta manifestação de intenção legal sem ambição para assegurar a qualidade e a equidade necessárias à educação. Tampouco há estratégia para executar o que o projeto propõe: 3 400 horas de aulas, inglês obrigatório (sem metas para formar jovens bilíngues), com escolas equipadas e professores formados. A nova reforma nem ao menos muda o conceito de ensino médio, imprensado entre o fundamental e o superior. Ele poderia ser redefinido como “conclusivo”, representando a formação da base de todos os brasileiros.

    Os possíveis avanços ainda deixarão muita gente despreparada para o mundo contemporâneo. A reforma não estipula metas diante do conjunto de conhecimentos que nossos jovens precisam angariar ao final de sua educação básica, nem aponta como construir um sistema efetivamente nacional. É difícil que esta não seja mais uma das dezenas de leis bem-­intencionadas das últimas cinco décadas.

    “O plano é insuficiente. As escolas continuarão ruins e divididas entre a ‘casa-grande’ e a ‘senzala’ ”

    As boas intenções de aumentar a carga horária, de combinar melhor o ensino tradicional com o profissionalizante e adotar itinerários conforme as preferências do aluno trarão ligeiras melhorias em relação à tragédia atual, mas não serão suficientes para assegurar qualidade e equidade, mesmo se fossem executadas por estados pobres, desiguais e com prioridades diferentes. A reforma não mira o futuro, buscando superar o atraso e a desigualdade. Não abraça todas as crianças independentemente da família e da cidade, não considera a fragilidade que vem da etapa fundamental anterior, tampouco a discrepância entre os entes federativos. Mais: não adota as novas tecnologias digitais nem oferece os meios concretos para sua implementação. Parece um plano de extensão das pistas dos aeroportos que se esqueceu de definir qual o tamanho necessário e como elas serão construídas. É insuficiente para implantar as escolas de onde nossas crianças e jovens decolariam ao futuro, dotados de uma bússola capaz de facilitar sua inserção social na busca da felicidade pessoal e do país que almejamos. As escolas continuarão ruins e divididas: algumas seguirão as “casas-grandes”, outras, as “senzalas”.

    Continua após a publicidade

    Tal reforma lembra a Lei do Ventre Livre: sem a meta da Abolição e com execução fragmentada entre municípios e estados. Está distante do que o Brasil requer: metas ambiciosas e instrumentos que só a União é capaz de oferecer. Sem isso, não entraremos no rol dos países com educação de máxima qualidade, com a devida equidade entre a escola pública e privada, a despeito da renda e do endereço do aluno. É mais do mesmo: não conseguiremos elevar o padrão necessário para atender aos desafios atuais, nem aproximar as escolas municipais e estaduais do nível de algumas poucas unidades federais ou daquelas instituições privadas abertas aos que podem pagar por elas.

    Em poucos anos, outras reformas virão com propostas semelhantes… Até quando a população brasileira estiver convencida de que só há futuro para o país se tivermos objetivos ambiciosos para a qualificação de nossas crianças e jovens e nenhum deles deve ser deixado para trás. Quando ficar escancarado que o governo federal precisa acolher as escolas de municípios e estados que não têm condições ou vontade de virar a página. Quando todos tiverem a consciência de que o ensino médio não pode ser “mais do mesmo”.

    Publicado em VEJA de 26 de julho de 2024, edição nº 2903

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Veja e Vote.

    A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

    OFERTA
    VEJA E VOTE

    Digital Veja e Vote
    Digital Veja e Vote

    Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

    1 Mês por 4,00

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

    a partir de 49,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.