Se há algo bom nas grandes crises de saúde é o questionamento das pessoas em relação à vida que levam. E com a ameaça do coronavírus não poderia ser diferente. A famosa frase do asclepíade grego Hipócrates, membro de uma família da antiguidade que praticou cuidados com a saúde por gerações, nunca inspirou tanta curiosidade quanto nos tempos atuais. Passei a semana inteira vendo rostos em pânico, me abordando o tempo todo com a mesma pergunta na ponta da língua: “Lucilia, o que devo comer para turbinar minha imunidade”?
Infelizmente, não há nenhum superalimento que sirva de escudo contra a Covid-19 – que era o que realmente essas pessoas queriam saber. A boa imunidade não é algo contratado de uma hora para outra, e sim, um patrimônio construído com o tempo, resultado de bons hábitos adquiridos ao longo da vida. Hábitos que envolvem hidratação adequada, sono reparador, pratica de exercícios físicos (de preferência, de curta duração e intensidade moderada), ausência de vícios, além é claro de fatores culturais e socioambientais.
Saúde, assim como outras conquistas pessoais, é algo desafiador para se manter e fácil de perder – ainda mais em períodos de grande estresse pessoal. Daí a importância de cuidarmos inclusive das nossas emoções e sentimentos. Mas sempre há maneiras de minimizarmos os riscos de comprometer nossa imunidade, inclusive através da boa alimentação. Especialmente se apostarmos em nutrientes que estimulam os glóbulos brancos responsáveis pela defesa do nosso organismo.
Fontes proteicas como carne vermelha, leite, ovos, assim como proteínas de origem vegetal (feijão, lentilha, soja, ervilha, grão-de-bico) são essenciais, assim como outros alimentos ricos em zinco (frutos do mar, cereais integrais, sementes e castanhas) que geram resistência nas células contra invasores externos. O ácido fólico encontrado nas carnes e nos grãos que auxilia na formação dos glóbulos brancos também pode ser encontrado em vegetais verde-escuros, como couve, espinafre, rúcula e brócolis. E ainda nos cogumelos – em especial no shitake, rico em lentinan, substância que estimula a produção de macrófagos e linfócitos, o que favorece a imunidade.
Castanhas, amêndoas e nozes, ótimas fontes de zinco, também são ricas em vitamina E que protege as células dos radicais livres. Uma excelente escolha é a castanha do Pará, fonte de selênio, antioxidante que acelera processos de cicatrização inclusive.
O ácido fólico e as vitaminas A (presente em vegetais alaranjados como cenoura, manga e mamão), vitaminas do complexo B (presente em vários grupos alimentares) e C (disponível em frutas cítricas como abacaxi, acerola, limão, maracujá, na laranja), ajudam a maturar células imunes que geram resistência às infecções. Essas frutas ainda são ricas em antioxidantes, fibras e flavonóides, reunindo propriedades anti-inflamatórias que, além de aumentar a imunidade, fortalecem o sistema cardiovascular. Ralado, em pó ou em lascas, o gengibre é igualmente rico em vitamina C, e também ótimo para amenizar a tosse, resfriados e inflamações acompanhadas de dor muscular e de garganta.
O alho e a cebola merecem um parágrafo a parte: o primeiro, além de ser rico em zinco e selênio, pode auxiliar na diminuição da secreção dos pulmões. E a cebola, fonte de quercitina (substancia que potencializa a função imune), tem propriedades antivirais, antibacterianas, antialérgicas e anti-inflamatórias, o que torna essa dupla de bulbos um ótimo recurso na prevenção de resfriados.
Cuidar dos intestinos através do consumo de probióticos (iogurtes, kombuchas e outros alimentos fermentados) também é fundamental na manutenção da imunidade. O consumo regular deles favorece a recomposição da microbiota intestinal com bactérias benéficas ao organismo, regulando a absorção de vitaminas e demais nutrientes.
Claro que não podemos esquecer daquilo que compõe grande parte do nosso organismo: a água, essencial para fazer as reações bioquímicas acontecerem nas nossas células. Tornar a boa hidratação um hábito é fundamental, tal como respeitar nosso corpo e buscar sempre a boa saúde. Hoje sabemos que um corpo debilitado com alguma condição crônica, como o diabetes tipo 2 e a hipertensão arterial as vezes adquirida com maus hábitos, fica mais suscetível aos efeitos dos microrganismos maléficos. Ideia que remete a uma outra provocação do mesmo Hipócrates que abre esse artigo, chamando a atenção para a importância da prevenção: “Mais importante do que saber que tipo de doença uma pessoa tem, é saber que tipo de pessoa tem essa mesma doença”.