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Coluna da Lucilia

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A pluma da felicidade

Em geral, ela pousa sobre nós quando menos se espera.

Por Lucília Diniz
11 nov 2021, 19h00
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  • Estamos ainda em novembro, mas o clima de fim de ano já é evidente nas cidades. O comércio se prepara para o Natal, os shoppings montam árvores e renovam a decoração, as pessoas começam a pensar em presentes e lembranças a amigos e familiares, os planos de Réveillon ganham contornos mais nítidos. A atmosfera é de antecipação, tão agradável quanto aqueles minutinhos que antecedem a chegada dos primeiros convidados para o jantar, quando, com a casa arrumada e a alma leve, experimentamos uma sensação, breve e relaxante, de felicidade por vir. Estamos nos preparando, sobretudo espiritualmente, para as festas em que trocaremos votos de felicidade para o novo ciclo que se inicia.

    Mas o que é mesmo felicidade? Felicidade não se define, como se fosse verbete de dicionário, nem se quantifica, como se estivéssemos no Butão, o pequeno país oriental que trocou o PIB pelo FIB (Felicidade Interna Bruta). Felicidade se sente. Cada um de nós, mesmo sem recorrer a palavras ou números, intui o que é ser feliz. Ou talvez o que é estar feliz, já que a felicidade é fugidia por natureza. Mesmo resistente a definições, a felicidade tem sido desde sempre objeto da atenção de escritores e poetas.

    Para saber se está feliz, a pessoa precisa de um termo de comparação. Ou seja, quem nunca enfrentou uma dificuldade maior não terá repertório emocional suficiente para avaliar a própria felicidade. “Sem arrufos não se aprecia a felicidade, como sem tempestade não se aprecia o bom tempo”, escreveu Machado de Assis, comentando, em um de seus contos, uma mágoa passageira que atormentava um casal. É aquela história: se você nunca assistiu a um filme ruim, como saberá identificar o bom filme?

    Não é à toa que o nosso mais festejado romancista traz o tema para o âmbito da relação amorosa. É nesse campo que a felicidade pode mostrar a sua melhor face. Ou o seu avesso. Tudo depende da atitude de cada um. Será que este ou aquele “arrufo” é mesmo necessário? E entre amigos queridos, o discurso duro e racional deve sempre se sobrepor a quaisquer outras perspectivas? Nesse caso, quanto a mim, continuarei a ser o algodão entre cristais belos e frágeis. Fico com o poeta Ferreira Gullar, que disse certa vez: “Eu não quero ter razão, quero é ser feliz”.

    A felicidade, porém, é escorregadia, difícil segurá-la nas mãos por muito tempo. Antes que possamos perceber, ela poderá estar escorrendo por entre os dedos. Já foi descrita como uma hóspede tão discreta que só nos damos conta de sua existência quando está de partida. “É como a pluma, que o vento vai levando pelo ar”, compara Vinicius de Moraes.

    A felicidade não é apenas breve. Ela também se mostra refratária aos que a buscam diretamente. Por isso deve ser acolhida, e não perseguida. Em geral, ela se materializa quando não estamos prestando atenção. Faça um movimento brusco em direção àquela pluma pintada em nossa imaginação pelo poeta, e ela pode se perder, dando piruetas no espaço com o deslocamento do ar. Quanto mais tentamos apanhá-la, mais ela é levada para longe. Aí, de repente, não mais que de repente, um dia a gente se distrai e, quando vai ver, lá está ela, pousada em nosso ombro.

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